Integrante da cesta básica, essencial na mesa da maioria dos brasileiros, chegou a hora do arroz se tornar meme nas redes sociais. A exemplo do que aconteceu com o tomate há alguns anos, alguns consumidores partiram para o humor, para conviver melhor com a situação: “Procurando casamentos para recolher o arroz no final da cerimônia”, ou, “Chega perto no ouvido dela e diz: fiz arroz”. O preço final ao consumidor, em alguns casos, aumentou 120%.

O grande vilão é o dólar. A valorização da moeda americana afeta diretamente as commodities, que são os produtos vendidos internacionalmente. Nos últimos seis meses, o dólar subiu cerca de 40%. Isso significa que exportar o grão passou a render mais. E esse aumento acaba sendo repassado para o mercado interno.

Para o empresário do ramo cerealista Carlo Alano, um dos grandes pontos para a alta do preço foi a defasagem, pois “há mais de dez anos vem se mantendo no mesmo valor e, automaticamente, muitos produtores deixaram de plantar, migrando seu cultivo e plantando soja, que já é cotada em dólar”. Segundo ele, a pandemia também influenciou: “Houve restrições sanitárias em diversos portos do mundo e o consumo global aumentou”, conta.

Carlos Roberto Wilk, diretor B2B da Cooperja – Cooperativa Agroindustrial de Jacinto Machado, diz que essa foi uma safra de alta produtividade, em menor área de plantio, “mas o preço chegou a esse patamar devido à defasagem que vinha de anos anteriores e agora, com a pandemia, o mundo inteiro voltou para dentro de casa, comendo mais arroz”, destaca. Sobre o valor de cotação da moeda americana, Wilk salienta que o dólar acima de R$5,00 também serviu para elevar o preço, não somente na gôndola, mas também ao rizicultor.

Em defesa do preço, o agrônomo diz que nesse tempo em que o valor foi mantido, o custo de produção, levando em conta somente a energia elétrica, aumentou cerca de 800%. “Muitos agricultores mudaram de lavoura e passaram a cultivar outras espécies”, refere.
A Cooperja tem 1.800 associados que nessa safra produziram 4,6 milhões de sacas de 50 quilos do grão, chegando a 230 mil toneladas armazenadas.

Vai baratear?

Uma queda significativa do preço dependeria de uma valorização do real perante o dólar. Isso torna difícil prever quando o arroz ficará mais barato. É difícil prever o que vai acontecer com o dólar. Se houver uma estabilização ou queda, o preço das commodities cai.

Já os técnicos da Conab – Companhia Nacional de Abastecimento -, em nota, acreditam que, independentemente do dólar, os preços tendem a cair, mas só no começo do ano que vem. Eles lembram que, historicamente, o preço do arroz costuma ser mais alto no segundo semestre do ano, por se tratar de período de entressafra. Há, portanto, uma tendência de queda a médio prazo. Além disso, com os bons resultados que quem plantou arroz está obtendo, a tendência é que a produção aumente, fazendo com que a safra 2020/2021 seja maior, jogando o preço para baixo. “É esperado que os excelentes preços atuais estimulem uma forte recuperação de área e, com isso, com uma produção maior, seguramente os preços vão se arrefecer no próximo ano. Ressalta-se, por último, que as cotações de arroz no Brasil são significativamente impactadas pelo volume produzido internamente”, diz a nota da Conab.