Uma coisa qualquer um que conheça um professor sabe é que, mesmo diante de todos os obstáculos impostos pela migração das aulas presenciais para remotas, temos trabalhado muito.

Ouço relatos de colegas que tem tido o dobro, o triplo de carga de trabalho, produzindo e ministrando aulas virtuais ao vivo, aulas virtuais assíncronas (o aluno acessa quando pode, não são ao vivo), e ainda aulas remotas em materiais impressos (para os que não tem acesso à internet). Além de toda essa jornada, ainda há as infindáveis burocracias, que se tornaram mais intensas. Com a finalidade de validar os conteúdos e registrar esse atípico ano letivo, muitas escolas solicitam um detalhamento nunca antes visto em planejamentos. Isso sem falar nas horas em cursos de atualização, tutoriais e tempo para aprender a utilizar toda a estrutura de aulas remotas. Ou seja, a única coisa que não o professor não fez nessa pandemia foi descansar.

Há alunos que não foram, de forma nenhuma contemplados pelo sistema de aulas remotas emergencial? Há. Assim como há alunos que vão para a escola esporadicamente, ou que não participam ativamente de nenhuma atividade proposta. Nenhum sistema contemplará todos, efetivamente. É papel da sociedade, não apenas da escola, olhar para essas exceções com o devido cuidado, encontrando individualmente a melhor maneira de incluir cada aluno na sua comunidade escolar.

Não podemos, de maneira nenhuma, na semana em que começam as comemorações do centenário de Paulo Freire, tolerar uma ideia de que os educadores não estão trabalhando. De que o ano escolar foi perdido. Eu já disse isso por aqui, em textos anteriores. Apenas quem vê a escola como um depósito de crianças para que os pais possam trabalhar acha que a escola está parada, que o ano escolar foi perdido.

“A educação faz sentido porque as mulheres e homens aprendem que através da aprendizagem podem fazerem-se e refazerem-se, porque mulheres e homens são capazes de assumirem a responsabilidade sobre si mesmos como seres capazes de conhecerem.” (Paulo Freire)