O planeta dos macacos

Quando adolescente, nos anos sessenta, eu morava em Porto Alegre e tinha um amigo francês, de nome Roger Henri Michel Bertin. Francês puro, da gema. Também fomos colegas num curso Técnico de Contabilidade. Éramos como irmãos. Ele gostava de andar comigo porque eu conhecia tudo na capital gaúcha. De minha parte, por ele ser uma pessoa dotada de uma cultura invejável. Uma grande amizade só se constrói quando há afinidades. Gostávamos muito de literatura, de cinema, de música, futebol, filosofia, história e, claro, vinho.

A gente recomendava um ao outro livros que havia lido e gostado. Num determinado ano ele viajou em férias à Europa, a fim de visitar seus pais. Na volta, trouxe-me de presente um livro, intitulado “O Planeta dos Macacos”, do francês Pierre Boulle, que fazia sucesso no velho Continente. O exemplar que eu ganhei era na língua portuguesa. Fora impressa em Portugal, porque ainda não se cogitava editá-lo no Brasil. As comunicações naquele tempo andavam mais devagar. Fiz uma cara de quem não gostou muito, já que ficção científica nunca foi do meu agrado. Até hoje.

Como ele notou que o presente não tinha me agradado muito, em que pese eu tenha ficado bastante feliz, e até comovido, por ele ter se lembrado de mim, falou-me com seriedade: – “Este tu podes ler, pois tenho certeza de que vais gostar. Eu te conheço bem. Então te garanto.” Em consideração à delicadeza do seu gesto, li o livro. Li não! Devorei! Só para teres uma ideia da grandeza da obra, foi dela que os americanos extraíram o tema para o filme e a série para a televisão, de mesmo nome, de grande sucesso no Mundo inteiro.

O escritor foi de uma felicidade extrema ao escolher o assunto e pela forma como o desenvolveu. A história fala de uma viagem feita por astronautas num futuro distante, quando os homens já se deslocavam pelo Cosmos, visitando e explorando outros planetas. Num determinado ponto de uma viagem, a nave espacial dos terráqueos caiu num planeta habitado por macacos e também por humanos. Acontece, porém, que, em virtude de uma guerra nuclear, os macacos evoluíram de tal maneira que ultrapassaram a inteligência humana, que regrediu, voltando estes à condição de irracionais. O resto deixo para descobrires tu mesmo, lendo esta obra prima.

Eu sou um antropólogo amador. Estudo muito a evolução humana. E vejo coisas que me apavoram. Já fomos selvagens. Aos poucos, fomos nos civilizando. Avançamos muito na Ciência, é verdade. Mas eu ainda vejo maldades terríveis no Homo Sapiens. Às vezes regredimos. Presta bem atenção no comportamento das pessoas na educação, na criminalidade, nas drogas, nas famílias… Ou nas guerras. Às vezes receio, confesso, que voltemos a ser macacos e estes, inversamente proporcional, um novo homo sapiens.