Crônica de Outono

Já estavas estranhando, não é, meu raro e paciente leitor? O mês de abril já dobrando a curva da sua metade e eu ainda não havia me manifestado sobre o Outono. Claro, tu que me acompanhas há mais tempo, sabes das minhas manias, dos meus gostos, da minha busca incessante pela felicidade. Mas não te preocupes, voltei. Vamos então conversar sobre esta estação mágica que estamos vivendo. Somos poucos. Alguns até riem de nós. Mas deixa pra lá. Diante de tanta realidade ruim, é bom sermos um pouco assim… Como dizem os jovens: “viajão”.

Eu não critico ninguém. Quem sou eu para julgar os outros? Tenho um enorme respeito, e até admiração, pelas pessoas que lutam desde as primeiras horas do dia até o último minuto da noite, todos os dias, no seu trabalho, no seu estudo, envolvidos na preocupação de progredir. Essas pessoas, das quais conheço muitas, e tu também, estão sempre dizendo: “não tenho tempo para nada”, “minha vida é uma correria só”. Estão sempre lúcidas. E suas vidas vão passando, e elas vão perdendo o melhor que a vida tem para lhes dar: – As pequenas coisas… As coisas simples.

Quando adolescente, tive a sorte de ler o livro “A Importância de Viver,” do chinês Lin Yutang. Foi uma das melhores coisas que me aconteceu. Nele aprendi que a gente tem que lutar, e muito, para ter o necessário. Sem jamais deixar de lado, porém, os pequenos prazeres que a vida nos propicia. Aqui está a chave da felicidade. Alguns de nossos irmãos são infelizes porque buscam apenas grandes objetivos. Quando os alcançam veem que não eram tão grandes assim. E aqueles que não os alcançam ficam frustrados. Infelizes.

Eu, de minha parte, estou sempre atento para as pequenas coisas que me dão prazer. E luto por elas. Perco, talvez, horas de trabalho e pesquisas, nas quais, quem sabe, eu poderia ganhar mais dinheiro, ser famoso, ter “status” na comunidade e obter outras frescuras, em troca de coisas simples, que são para mim do mais alto significado. Quando ando sozinho e encontro uma florzinha silvestre à beira do meu caminho, paro e fico olhando pra ela. Admirando-a. Converso com ela. E me comovo com a sua beleza simples. Faço o mesmo com os cachorros e os pássaros. Ao ver alguém se aproximar, suspendo os meus devaneios e sigo adiante.

Já observaste esses dias de outono? Calmos, sem vento. O Sol mais cor de cobre, ou, como dizia Érico Veríssimo: “O Sol de Outono tem cor de mel”. E o caminhar pela manhã, bem cedo? Ou à tardinha? Vendo o Sol se por, o dia terminar lentamente. Dando lugar à noite.

O verde das árvores e dos campos, mais verde. As folhas amarelas, douradas, caem e formam um tapete no solo. As estrelas surgem no Céu. Cada uma querendo exibir-se mais do que as outras. E eu ali, só com os meus pensamentos, Com a minha imaginação, sempre fértil. Nessas horas sou a menor criatura do Universo. Mas é isso que eu quero ser; uma criança. Quero fugir da realidade, tão difícil de entender.

Quero voar! Quero sonhar… O meu sonho impossível.