Uma coisa a gente não pode negar: essa tal pandemia fez todo mundo olhar para a escola. Todo mundo tem uma opinião, e todo mundo tem um aluno em casa, ou conhece quem tenha. É com esse adulto que tem um aluno em casa que eu quero falar hoje.
Talvez você esteja cansado de ter que dar conta do seu trabalho, de trazer o sustento para casa, e ainda ter que ajudar uma criança que esteja sob a sua tutela nos estudos. Provavelmente você esteja contando os dias, torcendo para que a escola reabra pois está sobrecarregado.

Todos temos muitas opiniões e incertezas sobre o retorno das aulas presenciais. Seja pelo receio do Coronavírus, seja pela impressão de ano escolar perdido. Mas tem uma pessoa no centro dessa equação que por vezes fica negligenciada. Essa pessoa é o estudante.

Recentemente tive contato com uma fala do importante pensador, pedagogo e desenhista italiano Francesco Tonucci, que trouxe as impressões dos alunos do país, que foi inicialmente um dos mais afetados pela pandemia. O que ele trouxe foi que a maioria dos alunos se divide em três sentimentos: sentem falta dos amigos, estão esgotados pelas tarefas das aulas remotas, e estão felizes por estar passando mais tempo com as suas famílias.

E é para esse último aspecto levantado que eu quero que você olhe agora. Como você está lidando com esse aluno, com essa criança que está aí confinada com você? Talvez essa criança esteja irritada, frustrada, cansada e com dificuldade de se controlar. Pode ser que ela esteja mais malcriada, ou ainda mais fechada, menos falante e menos ativa.

Te trago agora um convite. Um convite para permitir que essa criança aprenda algo com você que ela não aprenderia normalmente na escola. Convide-a para alguma atividade do cuidado com a casa. Mas tem que ser algo que você faça junto, ok? Pode ser fazer comida, cuidar de uma planta, recolher roupa no varal ou dobrar as próprias meias. Seja um professor do que a escola e a correria do cotidiano não podem ensinar para esse aluno. Permita que a sua casa seja, como o Tonucci trouxe na conclusão da sua pesquisa, um laboratório da escola, um lugar de experimentação de novos saberes.

Garanto que, se você aceitar esse convite, vai perceber o brilho no olhar de um pequeno que te admira, e o fortalecimento de uma relação que pode estar um tanto quanto complicada em meio a essa convivência forçada pelo confinamento.
Você não pode resolver a saudade que ele sente dos amigos. Não pode controlar as tarefas da escola. Mas pode fazer de um dos únicos aspectos positivos desse confinamento algo muito rico e significativo de verdade. Fique em casa, se puder. E fique bem.