Semana passada tivemos o dia da Consciência Negra. Dia 20, na sexta. Muitos influenciadores, jornais, revistas, programas, trouxeram durante toda a semana conteúdo voltado para a data. Escrevo de São Paulo, aqui inclusive é feriado. Até aí nada de realmente novo. Todo ano é mais ou menos isso, a gente celebra grandes negros da história, reflete sobre a importância de algum tipo de reparação histórica. E fica por aí.

Só que na noite do dia que antecede a data, um homem preto foi espancado até a morte na capital gaúcha. E as manchetes do dia 20, que deveriam por costume exaltar a vida de pessoas pretas, estamparam uma morte brutal. Eu não vou entrar no mérito “do que ele fez pra merecer o tratamento que teve”, pois no Brasil não há pena de morte, segurança de mercado não é juiz, e essas afirmações apenas corroboram o desejo de cada um em ser carrasco.

E aí, colega professor, não deu pra não levantar esse assunto por aqui. Pudemos perceber muitas pessoas indignadas com a violência, afinal todas as vidas importam. E é perfeitamente cabível essa percepção quando levamos em conta que menos de 5% da população da Região Sul do Brasil se autodeclara preta. Mas esse foi um crime racializado.

Para a professora da Universidade Humboldt de Berlim, Grada Kilomba, em entrevista concedida quando em viagem ao Brasil para a Carta Capital: “As pessoas brancas não se veem como brancas, se veem como pessoas. E é exatamente essa equação, ‘sou branca e por isso sou uma pessoa’ e esse ser pessoa é a norma, que mantém a estrutura colonial e o racismo. E essa centralidade do homem branco não é marcada.

Um mito que precisamos desconstruir é de que muitas vezes nos dizem que nós fomos discriminados, insultados, violentados porque nós somos diferentes. Esse é um mito que precisa acabar. Eu não sou discriminada porque eu sou diferente, eu me torno diferente através da discriminação. É no momento da discriminação que eu sou apontada como diferente.”

É claro que todas as vidas importam. Mas essa afirmação não pode ser o atuante para que sigamos discriminando e matando pessoas pretas.