E então a vida começa a ser diferente

Bom, a sociedade impõe regras e padrões e a maioria das pessoas a seguem sem questionar. Apenas aceitam.  Éramos uma família muito tradicional na região, e meu pai era muito rígido quanto aos lugares que eu e minha irmã frequentávamos. Saímos apenas na companhia deles. Meus pais gostavam de rodeios, de acampar e por isto fazíamos parte da Invernada Artística do CTG de Araranguá. Minha família participava ativamente. Aliás, foi neste meio que conheci meu ex-marido. Não podíamos ir a outros tipos de bailes ou lugares que meus pais consideravam inadequados para nós. Rédeas curtas. Depois de algum tempo, compreendi que, na verdade, o meu casamento foi uma maneira de fugir das regras acirradas do meu pai. Eu acreditava que casando, teria mais liberdade, que pudesse ter uma vida mais divertida. Não foi o que aconteceu. Aliás, por mais incrível que possa parecer isto ainda acontece.  Dá muito trabalho modificar o pensamento das massas e, de verdade, na época eu não tinha a menor ideia de que era possível que a vida pudesse ser diferente.

Aprendizado:

  • Fugir não resolve os problemas.
  • Nossas escolhas devem ser para que as coisas sejam resolvidas. Não adiadas.
  • Descobri que para mim, a liberdade é algo inegociável.

Depois da separação, voltei a morar na casa de meus pais. Mas estava decidida a experimentar coisas novas, ir a lugares diferentes com outras companhias. O Joel continuava trabalhando no escritório do restaurante, também trabalhava conosco uma amiga muito querida, a Adriana. O irmão dela era muito amigo do Joel. Passamos a sair, passeios curtos. Mas eu não estava nem um pouco interessada em namorar. Queria apenas aproveitar um pouco a vida, me distrair. Nós quatro tínhamos uma amizade gostosa. Tínhamos afinidades, éramos jovens, o coração cheio de sonhos. Risadas. Conversas soltas. Pensamento nas nuvens. A vida era leve, sem nenhuma preocupação.

Algum tempo depois, meu pai decidiu que formaria um grupo de danças gaúchas, mas ele queria inovar. Por isto contratou um professor de um grupo considerado irreverente e criativo, já que misturavam o estilo gaúcho com outros estilos e a combinação era muito boa. O professor dançarino era de Porto Alegre. Meu pai abriu as “inscrições” para os funcionários que quisessem participar do grupo. Então, eram nós três: o meu irmão, a minha irmã e eu. Mais a minha amiga Adriana, o irmão dela, o Emerson e adivinha quem mais?

Ele mesmo! Imagina que o Joel iria perder esta oportunidade. Passávamos mais tempo juntos, porque tínhamos que ensaiar. O professor dançava muito bem e eu me encantei por ele. Começamos um namoro. Já que naquela época não existia o relacionamento intermediário: “ficar”. Devo confessar que até hoje não consigo entender qual tipo de relacionamento é “ficar”. Como vocês podem perceber, a nossa vida familiar era controlada pela vontade do meu pai. Ele decidia, a gente obedecia. Não era contra a nossa vontade, é claro. A gente amava tudo aquilo. Mas ao mesmo tempo era desafiador, porque precisávamos sempre nos dedicar muito, ter bastante disciplina e ser bons em tudo que fazíamos. O nível de exigência era alto demais, difícil de agradar um pai perfeccionista.

 O que isto gerou em mim:

  • Autocobrança, alto nível de exigência de mim mesma e dos outros;
  • Buscar sempre a perfeição. E já que ela não existe, o nível de frustração é sempre intenso;
  • Acertar sempre, saber tudo.

Lição:

Leva tempo para aprendermos que a vida pode ser mais leve. Ninguém acerta sempre e ninguém vai saber tudo, mesmo com a duração de uma vida inteira.

Nesta época, o Joel tinha uma namorada, de bastante tempo. Que esperava que ele casasse som ela, inclusive. Esta moça tinha muito ciúmes da Adriana com o Joel. Ela achava que ela gostava dele. Era divertido. A gente saia juntos durante a semana e no fim de semana eu namorava e o Joel também. Ele com a namorada dele e eu com meu namorado. Nosso relacionamento era tão gostoso. Em nenhum momento, nem ele e nem eu mostrava-se apaixonado ou demonstrava a real importância que tínhamos um para o outro. Levávamos na brincadeira.  Numa destas saídas, num dia de semana, decidimos ir na praia Gaivota, nós quatro. sempre achávamos um motivo para estarmos juntos, conversar e dar risadas.

Lembro bem desta noite, porque sou canceriana, muito romântica – sei que não parece -, mas sou. Era uma noite muito clara, com uma lua linda. Um ar gostoso, aquele cheiro de mar que eu amo, estávamos caminhando pela beira da praia. Propositalmente, nos afastamos e começamos a caminhar em silêncio. Mil pensamentos. O coração batendo desesperadamente dentro do meu peito. Era como se esperássemos algo bom que ia acontecer, sem planos.  Olhamos uma guarita dos salva-vidas, subimos as escadas e entramos nela, somente nós dois. Deitamos um ao lado do outro, com as pernas para fora da casinha. E neste clima, aconteceu nosso primeiro beijo. Como esquecer quando encontramos a pessoa que nos completa? Lembrando agora, depois de mais de trinta e cinco anos ainda sinto a mesma emoção. Um frio na barriga, parece que o Universo se expandiu e ficamos só nós dois na imensidão. Imersos. Sozinhos um no outro.

Nesta noite, descobri o que é amar de verdade. Sei que pode parecer irreal. É claro que não havíamos planejado este momento. Mas isto não significa que ambos não tenhamos desejado que acontecesse. Há algum tempo que nossos olhos se encontravam e uma faísca incendiava, era inevitável. Os olhos azuis mais lindos e generosos que conheci. Mas como a maioria já sabe, ele sempre foi muito divertido. E quando ele mentia, seus olhos ficavam bem verdes.

O que me fascinava nele era a alegria, o jeito espontâneo de ser. Ele sempre foi aquele tipo de pessoa positiva. Aceitava a realidade, mas não se conformava. E era bom de conversa.  A verdade é que depois daquela noite, daquele beijo, minha vida nunca mais foi a mesma.

Conclusão:

  • Algumas coisas não são planejadas, elas simplesmente acontecem.
  • Os momentos importantes da nossa vida são tão bem guardados que podem passar décadas, a gente não esquece jamais.
  • As lembranças vem acompanhadas das mesmas emoções e os olhos brilham, o coração bate mais forte e acelerado como se estivesse acontecendo agora. Como foi gostoso.

Nesta noite começou a nossa história.

Na próxima semana vou contar a você o que fizemos com nossos relacionamentos: a namorada dele e o meu namorado. O que você imagina que fizemos? Adoraria saber a sua opinião. Estou adorando a participação de vocês aqui na coluna! Uma boa semana!!

5 COMENTÁRIOS

  1. Acredito que vc conversou com seu namorado que não estava mais afim .e ele também…
    Imaginei essa cena vc eo Joel como amigos.
    Saudades de vcs!!

  2. Acho que vocês ultrapassaram todos os obstáculos para estarem juntos e formaram uma linda familiaaa ❤️❤️ Amando ler essas histórias, você é incrível!!

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