Infoxicação, você já ouviu falar?

Uma das grandes mudanças vindas com a pandemia foi a aceleração dos tempos modernos. Em meio ao caos e às tragédias, diversas tecnologias foram inventadas em todas as áreas: educação e saúde, são as principais. Mas as mudanças começaram dentro das nossas casas, com a alteração da nossa rotina, desde o home office até as aulas online. O que já não estava muito bem, ou seja, a saúde mental da população, ficou ainda pior.

Relacionamentos familiares foram os mais atingidos, e o número de divórcios disparou. O que era tolerado passou a ser insuportável. O casamento perdeu a magia e as crianças puderam escancarar o quanto seus ídolos estão longe de serem seus pais. Tem coisa pior?

No trabalho a instabilidade e a imprevisibilidade tiraram o chão de muita gente e os governantes deixaram claro a sua incapacidade para lidar com as grandes tragédias. Gente grande, pessoas poderosas abriram o coração e falaram do medo que estavam sentindo. Houve os sabichões que tentaram adivinhar o futuro e ganharam milhões de seguidores doidos em saber do futuro.

Lives, podcasts, aulas e treinamentos online, a maioria iscas gratuitas para depois de pescar o consumidor ingênuo, vendiam seus peixes a preços acessíveis, com o objetivo de continuar a pescaria, mas desta vez com preços mais altos. Muitas informações. Você sabia que estamos beirando os três bilhões de páginas na internet? E mais, uma edição de um jornal como  o New York Times contém mais informações do que uma pessoa poderia adquirir em toda  sua vida no século XVII, na Inglaterra. De repente todo mundo é especialista em alguma coisa. A internet passou a ser tão essencial quanto o arroz e o feijão.

Um smartophone é uma ferramenta da qual todo ser humano do planeta é, praticamente dependente. Telas. Displays. Comandos de voz. Acesso a tudo através da rede, tudo mesmo. Desde uma caixa de fósforos até um assassino profissional.

Então, surgiram novas doenças: a primeira delas: cybercondria. Uma síndrome que atinge a saúde emocional e mental e que tem sintomas bem específicos: insônia, agitação, excesso de desejo de produção, sensação que não pode perder tempo, desejo de consumir informações.

Além disso, as pessoas atingidas são perseguidas pela sensação de inutilidade, obsolência e não estar conseguindo acompanhar a tecnologia. Elas sentem-se inseguras a medida em que sabem mais, porque acreditam que nunca sabem o suficiente.

A segunda doença, bastante comum, e sei que você poderá pensar que alguém me contou sobre você, é o vício do celular. A pessoa fica com o aparelho na mão,  mais de 18 horas por dia. Ela não presta a atenção quando está conversando com alguém, fica com os olhos na tela, rolando o feed de alguma rede social ou conversando com outras pessoas no whatsApp enquanto o outro faz a mesma coisa. Dois bobos: um faz de conta que fala e o outro finge que escuta. No final da conversa, nada de produtivo, de bacana, nada que acrescente. No meio da conversa elas mudam de assunto porque apareceu alguma notícia nova e o tema anterior simplesmente fica no vácuo. Já viu cenas assim? Tenho certeza que sim.

Comum e intrigante ter que deixar seu celular na entrada de uma festa em família, ou numa cesta na porta do restaurante. Mas interessante é saber que ele – o celular –  é um recurso para se livrar dos bebês e poder ter algumas horas para maratonar séries, assistir à novela ou bater um papo. Talvez as criancinhas  da era cibernética já nasçam com um dispositivo de acesso à internet, uma conta no instagram, um perfil no linkedin e já deixe seu posicionamento no twiter e que nem  seja mais necessária a antiga certidão de nascimento.

Talvez a doença mais comum seja a síndrome aterrorizante da ansiedade, na qual apenas um segundo torne-se para o ansioso um século inteiro. Tem gente, que numa internet de 10 gigas, não tem paciência de esperar uma página abrir. Fica clicando o botão do mouse sem parar até que a tela apareça. Imagine!! Não sabem esperar. Se alguém demora dez minutos para responder uma mensagem, o ansioso xinga. É verdade este bilhete. A ansiedade causa sudorese, taquicardia, falta de ar e até pânico.

Como ter uma vida equilibrada e uma mente saudável diante desta realidade? Em primeiro lugar é ter a consciência de que a pessoa está sintomática, embora levemente, e aí sim partir para a busca de soluções.  Vão aqui algumas dicas:

– faça a curadoria do seu conhecimento: escolha criteriosamente, dentro da sua área de atuação ou interesse, as informações que fazem a diferença para você, que sejam prioridade e agreguem valor;

– faça uma lista enumerando para quais atividades o seu celular, realmente é necessário. Você pode também determinar horários e tempo para estar presente nas redes sociais;

–  o americano Richard Saul Wurman, autor dos livros Ansiedade de Informação e Ansiedade de Informação2, oferece uma sugestão bacana.  Ele diz que devemos encarar o mundo como uma grande loja de matérias de construção. Você deve ser o arquiteto da própria catedral de conhecimento. Você não precisa de tudo que está disponível na loja. Ela chama isto de ignorância programada.

– aprenda a gerenciar a sua ansiedade. Se por acaso tiver uma crise de pânico, abra uma água com gás e fique observando as bolinhas até elas estourarem todas. Enquanto isto mantenha uma respiração consciente: inspire e expire estando atento ao ar entrando e saindo dos seus pulmões;

– experimente terapia, mindfulness, meditação, escutar músicas da sua preferência, dançar, atividades físicas e atividades ao ar livre;

– use o celular de modo moderado. Quando não for necessário, deixe-o em casa;

Como uma última dica, viva o presente! Este tempo tão precioso, que deixamos de lado em troca de um futuro imaginário. Perdemos tantos momentos gostosos, sorrisos e palavras que não são possíveis de rebobinar. Esteja no aqui e no agora e você vai experimentar a paz e a plenitude tão desejada!

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