Gambás e gatos

Uma vez eu tive um grave conflito com um gambá que invadiu o sótão da minha casa. Que fique bem claro que me refiro a um animal, e não a um humano que beba demais. Eu jamais trataria mal um destes meus irmãos, pois eu não sou muito diferente deles. Talvez só o que nos distinga seja a quantidade ingerida e o “modus vivendi”.

Mas eu precisava me livrar do bichinho. À noite ele fazia barulhos e o seu odor não era dos mais agradáveis. Também achei que a minha mulher não aguentaria dois gambás em casa. Um de nós tinha que sair. Como ele não se prontificou, apelei para especialistas da área. Um vizinho achou que a solução seria matá-lo. Como sou contra a pena de morte, procurei e encontrei um amigo, pessoa mais diplomática, que usaria uma armadilha especial para gambás. Deu certo, ele o desalojou e reintegrou-me na posse.

Pensei que os meus problemas estavam resolvidos. Luís de Camões disse: “Onde pode esconder-se um fraco humano?/Onde terá segura a curta vida?/Que não se arme e se indigne o céu sereno, contra um bicho da terra tão pequeno?”Aqui o bicho era eu. Noutro dia um gato invadiu o meu doce lar.

A porta da área de serviço estava aberta e por ela o felino adentrou no recinto. Sua posse viciada foi flagrada. O esbulho foi constatado pelo meu neto Iago. Quando ele entrou no local, defrontou-se com o gato. Tratou logo de proteger a posse da família, fazendo uso do desforço pessoal, aliás, atitude que a lei admite até contra humanos invasores. Não obteve êxito.

O gato, apavorado, saiu em tresloucada fuga. Dirigiu-se a uma porta envidraçada e sofreu um violento impacto. O mesmo ocorreu contra uma janela. Atordoado e com dores, o bichano não tinha mais condições de fazer uso da razão. Assim, pulou para cima da máquina de lavar roupas, que estava com a tampa aberta e nela refugiou-se. Pronto! Estava criado um impasse.

Aí eu cheguei e pedi que ninguém tocasse no gato, já que ele estava em pânico e agressivo. Era uma situação de alto risco. Tentei persuadi-lo a sair pelos meios pacíficos. Iniciei uma negociação. Dei-lhe um prazo de uma hora para se retirar. Ele não saiu. Esgotados os meios pacíficos, a saída era apelar para a força. “Quando a toga não resolve, usa-se a espada”.

O exército não! Seria uma força desproporcional. A polícia também não, pois usa armas. Poderia haver um confronto com graves consequências. Chamei o Corpo de Bombeiros. Sempre solícitos. Vieram os “soldados do fogo”, bem equipados. Expulsaram o invasor. Reintegrei-me de novo na posse. Agora estou me preparando até para ataques aéreos; morcegos, marimbondos ou pássaros. Lembrei-me dos romanos, sempre sábios: “Si vis pacem para bellum”!