Depois de seis meses de educação remota, de muitas incertezas e de muitos desdobramentos, é hora de tirarmos o véu superficial de um argumento muito usado para o retorno às aulas presenciais: recuperar o conteúdo perdido.

Já falei aqui sobre olharmos para o que os estudantes ganharam nesse período de distanciamento social, das lições únicas conectadas com a realidade de cada aluno e de sua comunidade.

Já falei aqui dos inúmeros esforços de colegas docentes que montam aulas, por vezes em suportes online e impressos, que estão disponíveis em canais de comunicação dos mais variados, e que tiveram suas casas transformadas em verdadeiros laboratórios de vídeo para as suas aulas remotas.

Mas é impossível não constatar que nesse processo alguns alunos ficaram sem contato com a escola. Estudantes sem acesso à internet, ou sem suporte familiar para retirada de material impresso na escola, ficaram mesmo para trás. E o que faremos para que esses alunos tenham as mesmas oportunidades que os demais?

Nesse momento é essencial que toda a comunidade escolar olhe para essas questões, individualize cada vez mais as experiências de aprendizado, e que a sociedade não olhe para esse estudante como alguém à margem, criando mais um abismo dentre os tantos já existentes.

Fico muito triste em ver alunos e famílias contando vantagem ao dizer que acompanharam com tranquilidade as aulas remotas, sem buscar contato com aquele colega que não apareceu na aula, sem oferecer algum suporte. Fico com o coração apertado ao saber de estudantes que não foram sequer encontrados pela escola nesses seis meses.

Não existe método pronto para esse retorno, para essa retomada e para esse acolhimento. A única coisa que não podemos fazer é deixar algum estudante para trás. Todos estamos sofrendo com as consequências da necessidade de distanciamento social. E todos merecemos suporte e amparo.

Essa responsabilidade não é apenas da escola. É de toda a sociedade. A escola não pode ser mais uma amostra da tão crescente desigualdade. A escola tem que ser ponte!