As atividades de pesquisa arqueológica foram encerradas nas obras de implantação e pavimentação da BR-285/RS/SC, entre São José dos Ausentes (RS) e Timbé do Sul (SC), após anuência do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Ao longo de 40 meses, o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) desenvolveu ações para preservar os bens de interesse histórico e cultural da comunidade sem prejuízo ao cronograma do empreendimento.

A execução do Programa de Prospecção e Resgate Arqueológico é uma das condicionantes do licenciamento ambiental da rodovia. Os estudos começaram ainda na fase de obtenção das Licenças Prévia e de Instalação, em 2011, com a realização de pesquisas que indicaram vestígios de uma ocupação humana muito antiga na região.

O IPHAN recomendou então que fosse realizado o resgate destes bens arqueológicos e ainda o monitoramento das obras de instalação.

Em janeiro de 2017 ocorreu o salvamento de dois sítios líticos superficiais (relativos à pedra lascada e polida) localizados no traçado do Contorno de Timbé do Sul. Lá foram encontrados 59 artefatos de uso associado à atividade de manejo florestal em um sistema de assentamento caçador-coletor.

Todo o material coletado foi higienizado, inventariado, analisado, interpretado e encaminhado para guarda definitiva na reserva técnica do Laboratório de Arqueologia Pedro Ignácio Schmitz da Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC), em Criciúma (SC).

O trabalho foi complementado no início deste ano, quando a equipe acompanhou e registrou a supressão da vegetação e o início da terraplanagem na área do sítio Arthur Piassoli I, identificando outros 11 instrumentos, essencialmente machados lascados e polidos.

As medidas incluíram ainda o monitoramento constante das obras, especialmente nas fases com movimentação de solos, visando detectar evidências arqueológicas não identificadas durante o diagnóstico. Não foram localizados, no entanto, novos vestígios que justificassem a metodologia de escavação.

A arqueóloga Mariana Neumann, que faz parte da equipe da Gestão Ambiental (STE S.A.), ressalta que o refinamento das conclusões e interpretações é necessário a partir do avanço dos estudos abrangendo os vales e interiores de cânions.

“Sabe-se muito acerca das ocupações pré-coloniais nos Campos de Cima da Serra e na planície litorânea, mas pouco acerca deste ambiente que articula estes dois espaços amplamente ocupados em um intervalo que abrange quase 10 mil anos”, salienta.

Durante sete meses, o DNIT também realizou o Programa de Educação Patrimonial com o objetivo de socializar o conhecimento arqueológico adquirido ao longo da execução do projeto com a comunidade local, fomentando o pensamento crítico sobre história e cultura. Foram realizadas palestras de sensibilização e mobilização, saídas de campo, produção de exposição, entre outras atividades que envolveram cerca de 250 pessoas.

Vale destacar também que a Gestora Ambiental produziu o documentário Arqueologia Pré-Colonial: Licenciamento Ambiental, vídeo com 15min30s que revela as técnicas utilizadas pelos arqueólogos no salvamento dos sítios e ainda os prováveis usos de cada peça.

Monitoramento e prospecção no Rio Grande do Sul

Em agosto de 2018 foram realizadas novas prospecções arqueológicas buscando complementar dados anteriormente levantados e verificar, em especial, a área do vale da nascente do rio das Antas, sobre o qual está projetada uma ponte.

Visando a identificação de registros pré-coloniais na área localizada na região dos Campos de Cima da Serra, a equipe optou por criar um modelo preditivo que orientasse as prospecções. A arqueóloga Mariana Neumann explica que, partindo da premissa de que grupos humanos tendem a estabelecer padrões de ocupação ou assentamento, esta metodologia é capaz de identificar a probabilidade de resultados futuros com base em dados históricos.

As atividades se concentraram no entorno do eixo da rodovia, com distância máxima de 500 metros para cada lado. Todas as áreas de alta e média probabilidades foram prospectadas por caminhamento – dispensando a necessidade de escavações – e nenhum sítio pré-colonial foi encontrado.

De acordo com a arqueóloga, a atividade forneceu novos dados acerca do patrimônio arqueológico regional, destacadamente acerca dos padrões de assentamento Jê pré-coloniais, permitindo confirmar a inexistência de bens arqueológicos em superfície e subsuperfície nas áreas prospectadas, vistoriadas e monitoradas.