Iago da Rosa Llantada, sombriense, oceanógrafo, atualmente cursando mestrado na UFSC, no Laboratório de Gestão Costeira Integrada, no qual participa de pesquisas utilizando ferramentas de geoprocessamento e sensoriamento remoto.
“É uma honra poder vir aqui falar sobre a minha paixão, que é a oceanografia, e sobre as minhas recentes pesquisas com as ciências do mar”, inicia, apaixonado. Iago fala de dois colegas, também de Sombrio, Maurício Coelho e João Clezar, que o inspiraram a seguir nessa carreira. Ele conta que a oceanografia é uma profissão nova aqui no Brasil, que foi regulamentada recentemente, no dia 31 de julho de 2008.

Fisiologia e comportamento

Também exemplificou um pouco de cada uma das áreas da oceanografia: “Na biologia estuda-se a fisiologia básica e o comportamento dos animais, principalmente a parte da ecologia das populações. A interação da fauna carismática com os seres humanos: as baleias, os golfinhos, os pinguins, as tartarugas, entre outros tantos animais belíssimos que vivem nos ambientes marinhos, representam bem essa temática”.

Ecologia pesqueira

Segundo ele, “outra temática muito relevante na biologia é a ecologia pesqueira, na qual o estudo tanto do uso dos estoques pesqueiros, quanto a perspectiva antropológica das populações que se desenvolverem com base nos recursos marinhos é muito importante”, detalha.

Geofísica

Utiliza ferramentas importantes da sísmica e da hidro acústica, que são os meios utilizados pra se encontrar e explorar os depósitos minerais, como o petróleo, entre outros, e muito relevantes pra gestão portuária. Na questão dos portos, para que o tráfego dos grandes navios nas vias marítimas ocorra sem maiores prejuízos, é preciso estudos minuciosos da profundidade do mar, para se encontrar os melhores canais de navegação, que muitas vezes precisam ser dragados.
“Quem em casa, ao ver a previsão do tempo pra saber se leva um casaco pro trabalho, ou, se vai ter sol pra poder ir passar o fim de semana na praia com os amigos; quem imagina, que aquela informação passada de forma prática dependeu de uma boia oceânica, que mediu e mandou os dados pra uma central, onde especialistas, além de instalarem e monitorarem as boias, aplicam um modelo número pra descobrir se no fim de semana os restaurantes da praia vão vender mais peixe?”, questiona. E acrescenta: “Hoje em dia a gente vê proteína de algas, medicamentos extraídos de animais marinhos, estudos sobre peixes contaminados por metais pesados…”.

Estatística

“Eu enlouqueço vindo falar da oceanografia pra vocês, porque essa é uma ciência que ao mesmo tempo é encantadora e muito desafiadora. Além de tudo isso que eu falei, que é a experiência material da oceanografia, e como os estudos todos somam evolução da vida em sociedade, hoje temos o poder dos satélites. Imagina só, poder colocar todo esse bocado de informação que eu falei num arquivo, e geoespacializar ele, em um mapa”, fala.
Ele exemplifica: “Os mapas da covid são feitos das coletas de dados por meio de entrevistas, tanto nas ruas quanto nos hospitais, quanto por meio da internet. Só que isso é no mundo todo. E aí, o que fazer com esses dados?! Estatística. Calcular o avanço, a taxa de progressão da pandemia em diversas regiões, delimitar pontos de foco e ação prioritária”, define.
Isso pode ser aplicado para dados de de desmatamento, bacias hidrográficas, saneamento, índices de desenvolvimento humano, dados de sustentabilidade, tudo isso na zona litorânea, e daí a gente pode ter uma noção do poder do geoprocessamento e da sua relevância na gestão pública.

O start

Quando Iago decidiu pela oceanografia, havia cursado um ano de direito. Foi na oceanografia, influenciado pelo direito, que despertou o interesse sobre as aplicações do conhecimento produzido pra melhorias da vida em sociedade, bastante pela influência do direito. Foi aí que encontrou a Gestão Costeira Integrada. Nesse caminho, descobriu a importância da ciência pra gestão pública.

O surfe

Questionado se o surfe era importante, Iago nos contou: “Claro que sim, esse é um esporte que tá em alta. Hoje o moleque que nasceu numa praia aqui no brasil, é muito provável que ele queira surfar como o ítalo Ferreira, ou o Gabriel Medina, quanto um menino gostaria de ser o Pelé nos tempos áureos do futebol brasileiro”, diz. “Além de popular, o surfe acontece no ambiente marinho, e que tem toda uma complexidade e um risco envolvido na sua prática”. “No surfe você interage com os animais silvestres, com a turbulência das ondas grandes, com as correntes, com as condições atmosféricas, com as propriedades geológicas do fundo marinho, que se tu não ficar esperto, ainda pode levar a pior se chocando contra rochas, contra os recifes, ou até mesmo contra uma bancada muito rasa de areia. Além disso, você interage com as pessoas, e com o ambiente no entorno. Se a praia é urbana, e não tem saneamento, como ocorre na maioria das praias urbanas do brasil, os surfistas com certeza estarão expostos diretamente ao despejo dos resíduos urbanos, sujeitos a contaminação”, alerta.
“Em tempos de covid, fala-se muito nos estudos feitos nos esgotos das primeiras regiões que foram o foco da pandemia no mundo, bem como na propagação do vírus no ambiente marinho, do que inclusive ainda sabe-se muito pouco a respeito, e que veio a gerar uma grande polêmica entre os grupos de surfistas” detalha.

Recomendação

Teremos que fazer mais matérias sobre o tema, pois impossível aproveitar todo o material que arrecadamos com Iago: “Eu acho esse assunto tão fascinante, que poderia ficar horas falando sobre”, fala. E deixa ao leitor a recomendação de um canal no Youtube que explica muito bem diversas aplicações da oceanografia, é um canal chamado Descontrartigo, criado por oceanógrafas formadas no centro de estudos do mar. “Vale conferir”, finaliza.