Já estamos saturados da expressão fake news. Mas também estamos soterrados num mar delas. A cada dia são disseminadas informações falsas, manipuladas ou parcialmente alteradas, em especial em grupos de mensagens por aplicativo. E a única arma efetiva para o combate a essa desinformação que está (ou deveria estar) ao alcance de todos é a educação.

 

A educação para a vida, prevista em nossas leis e bases passa pela cidadania digital. Um dos principais eixos da BNCC (Base Nacional Comum Curricular) prevê a competência em cultura digital. E isso passa pelo consumo e produção de conteúdo. E produção de conteúdo é, inclusive, aquela mensagem de bom dia que você manda no zap. No ambiente digital somos todos responsáveis. E é aí que mora o grande perigo!

 

Estudos comprovam que temos tendência a acreditar mais em determinadas mensagens do que em outras. Esse crédito se dá por vieses cognitivos, que podem surgir de algumas maneiras. Uma que destaco é a pessoa de confiança. Se alguém em quem se confia ou respeita encaminha uma mensagem, automaticamente acreditamos. Mesmo que seja uma informação sobre números super complexos da economia enviados pela tia que revende cremes de beleza. A pessoa de confiança dificilmente é questionada, e dessa forma além de receber, tendemos a compartilhar o que ela nos envia.

 

Outra questão importante é o viés de conformidade, que nos leva a não questionar, a não causar desconfortos ou embates em nossos ambientes sociais. Isso vale para aquele grupo de zap que a gente finge não ver para “não se incomodar”. E assim a mensagem segue de grupo em grupo, se tornando senso comum, mesmo sendo falsa ou mentirosa.

 

Trago ainda a nossa tendência a acreditar no que comprova nossas crenças. E é esse o perigo das chamadas “bolhas” de informação. É natural que seja mais confortável dar crédito e compartilhar mensagens que provem nossos pontos de vista, nossas ideologias, e até nossos medos. Com as polarizações fomos cada vez mais nos cercando de quem posta e pensa parecido, minando o diálogo e o questionamento. Nesse aspecto destaco também que ensinamos para os algoritmos das redes o que nos agrada e gera engajamento. O que cada vez mais nos leva para pensamentos parecidos, num ciclo vicioso.

Um dos deveres da escola, em outra competência das 10 principais da BNCC é a responsabilidade e a cidadania. Você exerce a sua responsabilidade quando, ao saber das tendências e vieses cognitivos e confirmatórios, questiona as suas certezas. E isso quem ensina é a escola. Valorizar a educação em tempos de fake news que comprometem a saúde de todos, como as que minam a confiança nos processos científicos, é essencial para a sobrevivência de quem amamos e da sociedade como a conhecemos.