Crônica | Luiz Llantada | Animal imprevisível

A maioria dos animais é previsível. O escorpião, por exemplo, sempre vai picar. Outro perigoso é o cachorro de raça feroz por natureza (Rottweiler ou Pit Bull). O que ilude as pessoas despreparadas é que estes demonstram ser dóceis quando criados, desde filhotes, numa determinada casa ou família. Tendo suas necessidades satisfeitas, aparentam e se comportam como mansos. Na primeira oportunidade, porém, em que sentirem dor, sede, fome, ou forem contrariados, ou ameaçados, fatalmente atacarão, matando ou ferindo alguém.

Um animal totalmente imprevisível é o homem. Isto mesmo, o bicho homem, ou seja, eu, tu e todo o mundo. A qualquer momento, de inopino, o “Homo Sapiens”, poderá cometer uma atitude inesperada, tresloucada, em desacordo com a sua personalidade. E aí ouvimos dizer das pessoas que o conheciam há mais tempo: “Mas não pode… Era uma pessoa tão boa, tão ponderada.

O ser humano é o único animal que pensa. Mas seu pensar nem sempre é voltado para o bem. A mente humana é dotada de extrema complexidade. Até hoje não se sabe exatamente como ela funciona. Algumas noções já se têm, mas a ciência ainda vai demorar muito tempo, talvez séculos, para saber exatamente como ela funciona.

Os religiosos têm suas explicações místicas, dizendo que a nossa mente é a nossa alma ou nosso espírito. Aquela história do livre arbítrio, sabe? Se não sabe, esquece. A ciência diz apenas que ela é o resultado da evolução natural da espécie.

Pelo fato de raciocinar, a maldade do homem é diferente da dos outros animais. O humano é capaz de dissimular suas reais intenções, o que o animal não faz. O irracional é autêntico. Deste sempre é possível prever-se uma atitude pacífica ou violenta, desde que se conheçam as características da sua espécie ou raça. Um humano é capaz de planejar uma maldade por muito tempo sem ninguém perceber, disfarçando-se em criatura de boa índole. É o que se denomina no Direito de “premeditação”. Dele sempre e tudo pode-se esperar.

Quando nascemos ninguém sabe se seremos bons ou maus. São os nossos pais, parentes, professores, sacerdotes e as boas comunidades onde vivemos que nos ensinam a melhor educação possível. Procuram fazer com que sejamos bons e fraternos. A triste realidade é que nem todos têm a mesma oportunidade. Assim, vamos procurando ser pessoas boas e civilizadas, em que pese, no curso de nossas vidas, vamos cometendo alguns deslizes.

Quando um homem comete um crime, busca-se saber o porquê. Para alguns, o criminoso é um produto do meio; nasceu ou se criou num ambiente adverso. Não teve um bom lar ou escola. Para outros, a origem da sua maldade é atávica. Está no DNA. Herança de seus ancestrais.

Em tese, o indivíduo deveria dar um sinal da sua anomalia psíquica, o que nem sempre ocorre, devido ao seu poder de dissimulação. Por isso que homem é o único animal imprevisível.

Então, te cuida, meu irmão, minha doce irmã. Cuidado com quem te relacionas… Ou com quem dormes.