Vamos falar sobre o luto?
Olá, gente do bem! Creio que este é um assunto que não pode passar em branco por aqui. São tantas pessoas morrendo, tantas famílias sofrendo a imensa dor da perda e da separação. Preciso confessar para vocês que quando esta pandemia começou, jamais imaginei que teríamos tantas mortes. Aliás, acho que ninguém de nós. Mas a verdade está aí, nua e crua: mais de 4 milhões de mortes. Sabe o que é mais assustador? Não são apenas números. São mães e pais, sãos filhos, maridos e esposas, são seres humanos que tinham uma história, pessoas queridas a amadas. Elas tinham sonhos e faziam planos.
A cada dia que eu acordo, quando abro meus olhos e tomo consciência que eu existo uma imensa dor rasga meu peito: saudade. A imagem do Joel sorrindo vem à minha mente como uma luz que ofusca meus olhos e então, lembro que ele não está mais aqui, neste plano. Esta percepção me traz a vontade de voltar a dormir. De fechar os olhos novamente e torcer para que o tempo passe bem depressa para vê-lo e abraçá-lo novamente. Mas uma outra força, muito mais poderosa, um amor gigante me empurra para fora da cama: as imagens dos rostos dos meus filhos. É como um vento que leva embora qualquer resquício de permanecer na cama e me empurra para fora dela com um recado importante: sua missão aqui na Terra ainda não terminou. Se tivesse terminado, você não estaria mais aqui. Então, me levanto e vou enfrentar o dia, o trabalho, a tristeza, a dor da separação, enfrentar a vida. Mas a minha tarefa de todos os dias é vencer o luto.
Diferentemente do que muitas pessoas imaginam o luto não é apenas perder pessoas. Vive-se o luto quando se perde algo ou alguém, seja concreto ou abstrato. Quando termina um relacionamento, quando se fecha uma empresa, encerra-se uma amizade, um emprego. A mudança, quando inesperada, tudo que altere a vida que você conhecia: morte da segurança, morte da liberdade, perda de um estilo de vida é considerado uma perda.
Numa situação de uma mudança, é comum passarmos por raiva, confusão e tristeza. Não existe um jeito certo e nem errado de passar pelo luto: cada pessoa vai ter a sua própria forma, original e subjetiva.
O luto possui sete estágios básicos. Eles não são lineares, não é uma sequência e cada um passa de um modo único. O primeiro deles é a fase da Negação. Aquele momento: “Meu Deus, não pode ser verdade.!” Este estágio é absolutamente saudável se for temporário. É um mecanismo de defesa que ajuda a anestesiar a intensidade da situação. Também oferece a vantagem de uma tentativa de desacelerar o processo. Deixar entrar apenas o que conseguimos lidar naquele momento. Mas se este estágio se prolongar, irá possibilitar a somatização. Enquanto você não encara está estagnado no tempo.
Para mim a fase da negação não apareceu logo após a perda do Joel. Para mim a realidade estava muito clara e concreta. Eu estava lidando com os documentos para a liberação e o reconhecimento do corpo no necrotério. E por mais dolorido que seja, havia um cadáver, e ele era real. Organizar as exéquias, escolher a urna, as roupas, tudo estava ali, bem à minha frente. Era uma vida encerrada, momento de colocar um ponto final em tudo que é material naquela existência que terminou. Não houve negação neste momento. Uma parte minha muito madura e lógica tomou a frente das decisões, das escolhas que procurei compartilhar com meus filhos para que tudo acontecesse em paz e harmonia. No meu coração existia apenas uma dor sem fim, e ao mesmo tempo uma pressa de que tudo acabasse logo.
Nos dividimos nas tarefas. Quando chequei em casa, já haviam muitos amigos e familiares esperando. Não havia a mínima possibilidade de negar. Mas ao mesmo tempo, eu desejava que fosse mentira, queria voltar pelo menos um dia. Mas quando a morte acontece, não há segunda chance, não há a possibilidade de reparar, refazer e quanto menos recomeçar.
Faz quase seis meses e de vez em quando me pego pensando que qualquer hora eu vou chegar em casa e ele vai estar. Me vem à mente aquele: “Meu Deus, não pode ser verdade.” Mas é. Queria ter dito a chance de conversar com ele como seria viver sem a sua presença engraçada e divertida. Perguntar o que eu devo fazer quando a saudade aperta demais e as lembranças de tudo o que vivemos vem com a força de um furacão me lembrando que ele era tudo para mim. Tive a chance de agradecer a ele por tudo, de dizer do quanto me amor é imenso, de falar da minha admiração por ele e de quanto tivemos sucesso na nossa vida. Pude dizer que me esforçaria e que ficaria tudo bem. Ele e eu sabemos que ficará tudo bem algum dia.
Enquanto isto, dias choro, dias sigo em frente, noutros quero que ele esteja aqui. Contabilizo apenas 24 horas para administrar, mais do que isto não dou conta de lidar. Sigo no conselho de Mateus: “Portanto, não se preocupem com o amanhã, pois o amanhã trará as suas próprias preocupações. Basta a cada dia o seu próprio mal.” – Mateus 6:34
Na próxima semana vamos falar do estágio da raiva. Não perca! Boa semana a todos.