O Sindicato
Agora eu tinha treze anos. Numa certa manhã entrei num barzinho que eu costumava ir, na Rua Vigário José Inácio, centro de Porto Alegre. Olhei em volta e vi dois circunspectos senhores, de terno e gravata, que me chamavam à sua mesa. Chegando a eles, perguntaram o meu nome, a minha idade e o que eu fazia. Respondi-lhes tudo, falando que trabalhava na Chapelaria Bento, ali próximo. Indagaram-me então se eu gostaria de trabalhar em escritório, mais propriamente no Sindicato dos Empregados no Comércio de Porto Alegre, na Rua dos Andradas, nº 1624.
De início, pensei comigo: “Esses caras tão de sacanagem”. Eu era muito cuidadoso, pois meus pais, meus irmãos e pessoas mais velhas me alertavam dos perigos que corre uma criança numa cidade grande. Mas fui conferir. Apresentei-me no Sindicato e conheci uma das pessoas mais fascinantes da minha vida: o Secretário Geral, Darcy Gross, um ex-deputado federal da Constituinte de 1946. Ao ver-me, pequeno e magrinho, achou-me muito criança. Notei que ficou comovido.
Depois da entrevista ele mandou que eu e meu pai fôssemos ao Juizado de Menores, a fim de fazermos a papelada para obter um alvará que me autorizasse a trabalhar. Em 01 de setembro de 1957, comecei no emprego dos meus sonhos. Ali eu permaneceria até os vinte anos, tendo me afastado um ano para o Serviço Militar. No mesmo local estudei Datilografia, o Ginásio e cursei o Técnico em Contabilidade. Tudo à noite. Era um universo diferente de tudo o que eu já conhecera. Eu convivia num ambiente altamente politizado. Sempre frequentando cinemas, freneticamente.
Dentre as minhas inúmeras funções, uma era ler diariamente os principais jornais: – Correio do Povo, Folha da Tarde, Última Hora (que mais tarde veio a ser Zero Hora), Jornal do Comércio e Jornal do Dia (que era da Igreja Católica). Lia e recortava as notícias de interesse do Sindicato, colava-as num caderno especial e punha sobre a mesa do Presidente, para que ele as lesse. Mas, é claro, eu lia também tudo o que me interessava, e assim fiquei conhecendo o Mundo e a vida.
Com o tempo, confiaram-me outras tarefas, como aguardar no aeroporto e nas estações rodoviária e ferroviária personalidades que vinham de fora. Eu tinha verba para custear despesas, tais como táxi (que chamávamos de “carro de praça”) e refeições. Eu os levava a todos os lugares; hotéis, repartições públicas e privadas, sindicatos, pontos turísticos, restaurantes e, não poucas vezes, na zona do meretrício, quando me pediam. Eu trabalhava, mas passava bem e me divertia demais. Aprendi muito. Eu teria mais coisas para contar-lhes, mas o espaço aqui não me permite. Deixo, então, por conta da imaginação de cada um de vocês. Assim, narrei de maneira sucinta e, às vezes, grotesca parte da minha vida como trabalhador menor de idade.