O Sedutor (Capítulo I)
Na década de sessenta do Século XX, eu e milhares de jovens nos dirigimos para o interior do País, a fim de trabalhar no Banco do Brasil. A maioria oriunda de grandes cidades onde havia sido realizado o concurso. O Banco remunerava bem seus funcionários. Era o emprego sonhado. Vimo-nos, de repente, morando em pequenas e pacatas cidadezinhas. As moças do lugar assediavam os novos habitantes em busca de um casamento promissor. Menos eu, claro, pois chegara casado. Quase todas procuravam aproximar-se da meninada do BB. Digo “quase” porque havia uma garota muito confiante em si, que não dava bola para o pessoal. Era a Graça. Conhecida como “Gracinha”.
Só podia ser “Gracinha” mesmo, alguém tão graciosa. Tinha dezesseis anos. Cruza de alemão com “pelo duro”. Morena de cabelos lisos, compridos e pretos como carvão. Olhos azuis. Estatura mediana, magrinha, bundinha arrebitada e peitinhos salientes, mas delicados. Andava suavemente, como se estivesse deslizando. Nossos colegas mais bonitos tentaram conquistá-la, sem obter êxito. A moça se preservava. Era simpática, educada e amável, mas não namorava ninguém. Sonhava em casar.
Um dia, veio trabalhar conosco um carioca, de nome Lucas. Logo que chegou, botou os olhos na Gracinha e foi, de pronto, perguntando quem era. Deram-lhe a dica: “Pode esquecer! Com esta, não vais conseguir nada”. Para ele, carioca da gema, sedutor contumaz, foi um desafio. Apostou com a turma que conquistaria a menina.
Ela não o conhecia, pois ele chegara há pouco. Gracinha trabalhava numa loja de presentes. Um dia Lucas entrou no estabelecimento e dirigiu-se a ela, simulando timidez. Pediu-lhe que o ajudasse na escolha de um presente, pois conhecera uma moça muito bonita e queria aproximar-se dela. E queria impressioná-la. Não importava o preço. Queria o melhor. Algo que ela própria gostaria de ganhar. Gracinha, muito atenciosa, cumpriu sua missão. Sugeriu um perfume importado, muito caro. Achou até que ele não o compraria.
É este! Disse ele. Ela, bem devagar, fez um pacotinho caprichado. Ele, fascinado, admirava sua delicadeza. Aqueles cabelos lindos caídos sobre seus olhos. Seus lábios húmidos e entreabertos. Lucas pagou-lhe. Gracinha estendeu-lhe a mão com o pacotinho. Mas ele não pegou. Apenas sussurrou: “O presente é pra ti.” Deu-lhe as costas e saiu. Gracinha ficou ruborizada. Muda. Paralisada. Parecia uma criança. Um nó trancou sua garganta e seus olhos inundaram-se de lágrimas, que lhe escorreram pela face. Ficou ali, estática, com o pacotinho na mão ainda suspensa no ar. (Continua na próxima semana)