Fernando Pacheco, de 30 anos é sommelier de cervejas por formação
Entre as inovações previstas para a 11ª edição do Concurso Brasileiro de Cervejas (CBC), entre 06 e 08 de março, no Don Concept Hall, em Blumenau, está o primeiro jurado surdo em um certame dessa categoria em todo o mundo. Trata-se de uma política que tende a crescer a partir de agora, segundo Develon da Rocha, presidente da Associação Blumenauense de Turismo, Eventos e Cultura (Ablutec), organizadora do CBC. “A questão da inclusão é muito importante e certamente este jurado trará ainda mais conhecimento a todos, não somente por sua experiência como profissional, mas também para balizar o futuro do evento neste sentido”, avalia.
Rocha se refere a Fernando Pacheco, de 30 anos. Natural de Uberlândia (MG), é sommelier de cervejas por formação, que, ao provar pela primeira vez a bebida, sentiu que dela viria seu futuro profissional. Abaixo, uma breve entrevista com o profissional cervejeiro.
Como você se sente sendo o primeiro Surdo do mundo a ser jurado em um concurso cervejeiro?
Fernando Pacheco – É um sonho se concretizando. Quando iniciei meus estudos cervejeiros, eu almejava oportunidades que pudessem oferecer um espaço de interlocução com outros profissionais, tudo isso mediado pela língua brasileira de sinais – libras, minha língua materna. Esta empreitada só será possível porque teremos a participação do também cervejeiro e sommelier, Marcos Roberto de Oliveira, tradutor e intérprete de libras. Com sua presença será perfeitamente possível minha interação com o evento e, principalmente, com os integrantes da mesa no momento do Concurso. Será, sem dúvida, um marco para a minha carreira e, mais ainda, para toda a comunidade Surda.
Diante de sua experiência, usuário de uma língua minoritária, como você vê a iniciativa do Concurso com este pioneirismo?
F.P.-Eu não consigo encontrar na língua portuguesa uma palavra que expresse com exatidão o que estou sentindo. É um misto de euforia, alegria, realização, sentimento de pertencimento e de muita gratidão. Ter a oportunidade de representar essa minoria em um evento de tamanha importância que é o CBC, que por séculos foi silenciada e deixada à margem, é uma responsabilidade muito grande, mas que farei dando o meu sangue. Será a oportunidade da minha vida.
Para mim, atuar como jurado Surdo no CBC, o primeiro no mundo, é uma forma de resistir, de existir e de compartilhar. Por dar visibilidade aos Surdos, o CBC será um grande incubador de ações sociais e, com certeza estará novamente fazendo história. Já presenciei empresas, não só na área cervejeira, surfando em projetos ditos ‘sociais’ apenas para dizer; “Somos uma empresa ou cervejaria ‘inclusiva’ e estamos apoiando a comunidade Surda”, mas que, na realidade, apenas usam uma causa em benefício próprio. Então, quero agradecer de coração à oportunidade que o CBC está me proporcionando.