A primeira vez que vi o Cacai, eu subia a escada para a sede da Rádio 102.9 FM, que ficava ali na avenida, perto do Bar do Tião. Ele estava todo retorcido e desajeitado, tentando cortar as unhas do pé, em cima dum murinho que tinha ali. Fui pedir emprego. Chamaram o cara do murinho, um guri, para conversar comigo. Em uma conversa de, talvez, pouco mais de um minuto, me contratou. Nesses 24 anos que o conheço, mesmo no tempo em que estive fora de Sombrio, acompanho a trajetória desse “louco”. E coloco a palavra “louco” entre aspas, porque ele vem provando, nesse tempo, que cada uma das suas “loucuras” eram possíveis. Ser vereador de Sombrio é apenas uma delas.
É que o vereador Juca (PP), depois de seis vereadores sombrienses serem afastados por decisão da Justiça, pediu afastamento temporário de suas funções, por 70 dias, a contar de ontem (01) e Carlos Vagner dos Santos Amorim (Cacai Amorim), deve tomar posse na data de hoje (02). Fui conversar com ele, que traçou uma linha do tempo desde sua infância.
Carona, cavalo e carroça
Com sete anos, Cacai ajudava sua mãe, Alcionê. Ele vendia, em Balneário Gaivota, quarenta roscas de polvilho por dia. “Eu saia daqui de Sombrio, de carona, chegava na praia, vendia tudo. Voltava com o saco vazio e o dinheiro pra minha mãe”. Eram vinte roscas pela manhã e vinte à tarde. Depois disso, trabalhou como engraxate, vendedor de picolé e sorvete, na antiga rodoviária, vendia enroladinhos de banana e pirulitos que sua tia fazia, no intervalo da escola – Catulo. Seu avô paterno, Alcides Amorim, foi o proprietário do primeiro mercado da cidade, onde seu pai, Valmarino também trabalhava. A família iniciou no ramo do material de construção, com material pesado. Ali, já com 19 anos, “em cima de uma carroça e um cavalo”, entregava material de construção.
Tudo para a sua construção
O sonho de ter, na loja, não apenas material pesado, mas tudo para a construção de uma casa, foi ganhando espaço e a família foi ampliando os negócios e nasceu a Valmarino Amorim & Filhos, que depois foi rebatizado de Lojão Amorim. Em 1º de julho de 1983, assinou carteira de trabalho na empresa, aos 20 anos, trabalhando até agosto de 1992.
A emissora
No ano de 1989, por seu pai, soube que havia sido liberada concessão para uma emissora de rádio em Sombrio. Soube, ainda, que seu avô sonhava em ter uma rádio, “o falecido padre João Reitz também tinha esse sonho”, conta. Decidiu seguir o sonho de seu avô, o conselho de seu pai e foi conversar com o prefeito da cidade, naquela época, Arlindo Cunha. Após reunir todas as informações e documentações, e também atender a todos os requisitos, obteve a concessão. A fundação da 102.9 FM foi em 08 de novembro de 1989 e em 28 de agosto de 1992 entrou no ar.
O cidadão
Cacai entende que a verdadeira missão da imprensa é prestar serviços à população. Em 1996, começou a apresentar programa de jornalismo na emissora, das 7h às 9h. Havia o “Espaço do Ouvinte”, e o “Bote a boca no trombone”. Os programas servem para que a população tenha no microfone, o espaço que não consegue ocupar na sociedade e ser ouvido em seus problemas e anseios.
BR duplicada
A primeira das bandeiras levantadas pelo programa foi pela duplicação da BR-101. Todas as sextas-feiras, o programa era transmitido de um dos trevos de acesso das cidades cortadas pela rodovia.
O trevo do Japonês
Muito antes da conclusão da duplicação ou da discussão de seu traçado, Cacai foi procurado pelo empresário Vito Basso, que trazia a preocupação com o crescente número de atropelamentos com morte que estavam acontecendo no trevo que dava acesso ao bairro Januária – “morria um por mês ali”, conta. Em cerca de noventa dias, apresentando e transmitindo todas as sextas-feiras o programa, diretamente do trevo, o problema foi solucionado. “Fazendo um cálculo grosseiro, de lá para cá, 240 vidas foram poupadas… considerando uma morte por mês”, calcula.
Pavimentação das Serras do Faxinal e da Rocinha
Depois do trevo, a luta foi pela pavimentação da Serra do Faxina (SC-290), que está com cerca de 50% da obra concluída. Também a Serra da Rocinha (BR-285), já está com as obras bastante adiantadas.
Ponte sobre o Mampituba
Numa luta de cinco anos, transmitindo o programa da beira do rio, em frente à ponte pênsil de Passo de Torres, uma vez por mês.
Dom Joaquim
“Em julho de 2004, infelizmente, deixaram fechar o hospital. Foram exatamente nove meses, todas as sextas-feiras, em frente ao hospital. Transmiti 44 programas dali. Só saí de lá, justamente na sexta-feira que reabriram a instituição, em 29 de abril e 2005”, comemora. “Eu apenas queria que o hospital reabrisse, fui ameaçado até de morte”, lembra.
UTI Móvel
Foram dois anos de luta pela UTI Móvel. O jornal da Rede Amorim – na época “Destaque” -, todos os dias, trazia um rodapé com a seguinte frase: “Enquanto esse pedido não for atendido, a gente não tira esse anúncio daqui”. Ainda trazia a imagem de duas luvas de boxe e o slogan “Rede Amorim, a rede que luta por você”. “Essa UTI Móvel salvou meu tio, que teve que ser removido para Criciúma e, em outra ocasião, meu irmão”.
Doralina
A escola Doralina Clezar da Silva, na Lagoa de Fora, em Balneário Gaivota foi interditada pelo Ministério Público e fechou. “Recebi, aqui na empresa, uma comissão da Associação de Moradores, que me chamou para uma reunião lá na comunidade. Como já havia a tradição do programa de sexta, pediram para fazermos lá também. Por alguns meses fizemos o programa de lá”, conta.
Catulo
Também a escola onde Cacai estudou, o Catulo da Paixão Cearense, em Sombrio, foi interditada pelo MP. “Como eu já imaginava o que estava prestes a acontecer com o patrimônio da escola, também abracei a causa do Catulo, sozinho”. O programa era transmitido de frente da escola. Um tempo depois a Associação de Pais e Professores também foi mobilizada e após 44 programas, o Catulo está atendendo. “No Catulo, um vereador veio me confrontar, dizendo que eu apodreceria ali. Além de não ajudar, atrapalha”. Segundo Cacai, havia um grupo interessado no patrimônio da escola e “queriam que o assunto caísse no esquecimento, para que o imóvel, como havia acontecido com o hospital, fosse a leilão e arrematado por uma bagatela”, desabafa.
Do bolso
Esses programas, todos, eram apresentados diretamente do local onde a necessidade havia surgido, Serra do Faxinal, Serra da Rocinha, ou onde quer que fosse. Muitas vezes, Cacai e equipe acordavam durante a madrugada para deslocamento, testes de equipamento. Havia necessidade de linha de transmissão, que um dia antes era testada lá no local. Para tudo isso, havia investimento humano e financeiro. “A gente tinha que pagar para trabalhar, para fazer a coisa acontecer”, desabafa.
Comida é urgente
“Alimentar-se é necessidade fisiológica do ser humano. O cidadão e sua família não podem esperar para comer”, fala. A empresa carrega mais essa bandeira. Dezenas de milhares de cestas básicas já foram distribuídas nesses últimos trinta anos. Para se ter uma ideia, somente no último evento, o show do cantor Fernandinho, oito toneladas de alimentos foram arrecadadas. “Isso lá em Balneário Rincão. Nós chegamos a arrecadar vinte toneladas em uma única noite”, comemora. Os alimentos são destinados diretamente a entidades que fazem a distribuição.
Vereador
Entre os projetos do vereador Cacai Amorim, está a ligação dos Bairros São José, Nova Brasília e Januária à comunidade de São Camilo. A ponte já está pronta desde a gestão do ex-prefeito Jusa. “Por que que essa ponte, que já está pronta ainda está sem estrada?” Para ele, essa obra já era para estar pronta. Também será bandeira o tratamento de esgoto de algumas comunidades. “Legislar, fiscalizar, investigar e denunciar, também está atrelado ao cargo de vereador e essa será a missão que eu vou estar ali para cumprir”, assevera.
Dois microfones
Do poder do microfone da Rádio 102.9 FM e do poder do microfone da tribuna da Câmara de Vereadores, Cacai diz que “apenas será mais uma ferramenta que vai agregar ao trabalho que já venho fazendo”
Família
Ouvi, do filho mais velho de Cacai, que está na Irlanda, mensagem o parabenizando e desejando “que os colegas vereadores recebam a transpiração da tua maneira de trabalhar e ver as coisas, porque sei que tu és completamente incorruptível”. Essa marca, verifica-se no dia-a-dia. Percebe-se que o empresário/vereador é também pai, filho, marido e já se prepara para ser avô – em conversas, conta que já sonha com os brinquedos e espaço para receber os netos.
Pré-candidato?
“Eu diria que, hoje sim”. Ele confessa que quando, no último pleito conquistou apenas 207 votos, ficando em sétimo suplente “levou uma pancada”. “Hoje entendo muita coisa do que aconteceu naquela época”, desabafa, dizendo que colocou seu nome à disposição do partido, inclusive para eventual composição em chapa para concorrer à majoritária.
Deus
Com apenas 207 votos, sendo sétimo suplente, e faltando apenas 10 meses para o final da legislatura, Cacai crê que quem o colocou na Câmara foi o braço de Deus. “Era impossível, naquelas condições, eu estar assumindo, como estou assumindo hoje”.
Parabéns Cacai! Você é um merecedor!
Tuas lutas nunca foram em vão e você foi um escolhido de Deus para ajudar as pessoas! Salve Salve Cacai siga sua luta e a amiga aqui ficará torcendo para que cada vez mais você consiga realizar seus objetivos em prol da sociedade!