O professor e doutorando Gustavo Silveira, ao lado dos estudantes Vanessa Pires e Micael Soares, da 6ª fase de Psicologia da Esucri, foram os convidados de uma entrevista na Rádio Amorim FM 102.9, para discutir a importância da saúde mental, os desafios da formação e o futuro da profissão na sociedade contemporânea. O debate aprofundou-se em temas cruciais sobre a mente humana, a escolha profissional e o papel da Psicologia na busca por entender o comportamento humano.
A psicologia como primeira escolha
Para Gustavo Silveira, com 11 anos de atuação e uma sólida trajetória acadêmica, incluindo mestrado e doutorado, a Psicologia sempre foi a primeira opção de carreira. “Sempre tive um desejo de entender o porquê que as pessoas fazem o que elas fazem,” revelou. Ele destacou que a busca por compreender o funcionamento da psique humana — como o indivíduo pensa, se posiciona e se comporta — é um motor para a maioria dos estudantes da área.
A conversa rapidamente se voltou para o conceito de empatia. O professor e os alunos concordaram que a visão comum de “se colocar no lugar do outro” é superficial. “Não consigo 100% me colocar no lugar do outro, eu teria que viver a vida do outro,” explicou Gustavo.
A estudante Vanessa complementou, enfatizando que o papel do psicólogo é ter um olhar diferente e compreensivo da vida do ser humano, sem julgamentos, pois “cada um tem um chão diferente.” Micael acrescentou que o curso ajuda a desenvolver o senso crítico e a habilidade de entender o outro, mas não de “sentir como o outro”.
Choques de realidade na formação
Os estudantes e o professor compartilharam os “choques de realidade” enfrentados durante a graduação. Gustavo mencionou que a Psicologia, diferentemente de ciências exatas, é uma epistemologia pluralizada, ou seja, não há respostas singulares como em “2 mais 2 sempre dá 4.” É a diversidade de linhas de pensamento e escolas que, inicialmente, pode ser avassaladora para os calouros.
Vanessa pontuou o que considera o maior e mais belo choque: a Psicologia não é apenas um curso, mas uma forma de viver. “É aprender a escutar com mais paciência, respeitar o diferente, a lidar com o invisível do outro e também com o seu próprio,” disse. O curso, segundo ela, é um processo transformador que muda o modo de pensar e olhar o mundo.
A importância do autoconhecimento e da clínica
A discussão avançou para a vida profissional. Micael e Vanessa, ambos na sexta fase, planejam iniciar em breve os estágios clínicos. Sobre o futuro, Vanessa expressou que, embora o caminho profissional possa mudar, ela tem explorado o interesse pela área Organizacional, atuando no RH da própria rádio. Micael, por outro lado, tem o brilho nos olhos focado na Clínica.
Gustavo esclareceu a solidão da profissão. Por questões éticas, o psicólogo não pode compartilhar detalhes dos atendimentos. Isso torna o trabalho cansativo e exige que o profissional busque seu próprio suporte. É neste ponto que a psicoterapia para o psicólogo se torna quase obrigatória. “É quase impossível um psicólogo não ter o seu próprio psicólogo,” afirmou Gustavo, ressaltando que esse processo é essencial para lidar com o peso e o estresse da profissão.
Os alunos da Esucri, aliás, já são orientados a buscar acompanhamento desde cedo. Micael destacou o Serviço de Psicologia Integrado (SPI) da instituição, que oferece atendimento gratuito não apenas para os estudantes da Psicologia, mas para toda a população e demais alunos da Unesc, sendo um importante ponto de apoio.
Saúde mental pós-pandemia, ansiedade e relacionamentos
A entrevista abordou o aumento de problemas emocionais após a pandemia, com a ansiedade em destaque. Gustavo explicou que o isolamento deu visibilidade à Psicologia, pois as pessoas começaram a se questionar sobre suas vidas. Ele fez uma distinção fundamental:
Ansiedade como estado: Sentimento pontual e necessário para a sobrevivência (ex: ficar tenso antes de uma entrevista).
Ansiedade como traço: Quando a ansiedade se torna parte da personalidade, podendo levar a crises e transtornos generalizados.
O excesso de informação e a vida multiconectada das redes sociais foram citados como catalisadores dessa ansiedade.
Sobre relacionamentos, o professor criticou as crenças limitantes sobre como um casal “deve ser”, reforçando que cada relacionamento é único. O trabalho da Psicologia é ajudar a desfazer o “script de vida” imposto por essas crenças. Utilizando a Análise Transacional, ele explicou os estados de ego (Pai, Adulto e Criança) e a importância de os casais pararem no estado Adulto para tomar decisões e debater o relacionamento de forma franca e racional.
Conclusão: um sentido de vida
Nas considerações finais, os convidados expressaram a realização na escolha profissional. Gustavo manifestou o sonho de continuar auxiliando na percepção da Psicologia, unindo-a à neuropsicologia.
Vanessa resumiu seu propósito: “Eu vi que realmente eu estava no curso certo. A minha objetividade é que eu sempre fui uma pessoa de querer ajudar as pessoas… Vou conseguir atingir um número de pessoas e ajudar de alguma forma.”
Micael emocionou-se ao dizer que o curso de Psicologia lhe deu um sentido de vida. “Quando a gente fala de depressão ou suicídio, muita coisa está envolvida com a falta de sentido, a desesperança. E eu me senti muito esperançoso em ajudar os outros,” concluiu, motivado a levar a Psicologia para frente.












