O que era para ser uma viagem de descanso em família se transformou em uma experiência de sobrevivência. O dentista Dr. Marlon Carcunchinski, de Sombrio (SC), viajou com a esposa, Nani, e as filhas, Sofia e Lorena, para a Jamaica, no dia 18 de outubro, acompanhados de outros 15 familiares de Tramandaí (RS). O grupo, formado por 19 pessoas, viveu momentos de pânico durante a passagem do furacão Melissa, que devastou parte do país caribenho no fim de outubro.

O início da viagem
Nos primeiros dias, o clima era de férias perfeitas. “Passamos oito dias maravilhosos”, relatou Marlon. Mas, ao final da estadia, a tranquilidade deu lugar à tensão. No domingo, 26 de outubro, ao chegar ao aeroporto de Montego Bay para retornar ao Brasil, a família se deparou com uma situação inesperada: o voo da Latam havia sido cancelado, assim como o de outra companhia aérea. Nenhum funcionário estava no local para oferecer explicações, enquanto todos os outros voos partiam normalmente.
A aproximação do furacão
De acordo com o dentista, no dia 21 já havia alertas de uma tempestade de categoria 1. “No dia seguinte, passou para grau 2 e, na sexta-feira, já sabíamos que chegaria a grau 4 ou 5”, contou. A família tentou antecipar o retorno, mas os voos estavam lotados. “Como o furacão estava previsto para o dia 28, pensamos que conseguiríamos sair antes. O problema foi o cancelamento do voo”.
Com a aproximação do fenômeno, o grupo se dirigiu para o resort mais próximo ao aeroporto, cerca de 1,7 km, para facilitar a volta após a passagem do furacão. O local original em que estavam ficava a mais de 30 km de distância. Tudo por conta própria, sem nenhum apoio da companhia aérea.

“Parecia um filme de terror”
Quando o Furacão Melissa atingiu a ilha, os ventos ultrapassaram 295 km/h, destruindo parte do aeroporto, do resort e da cidade de Montego Bay. “O resort onde estávamos teve cerca de 50 quartos destruídos”, relatou Marlon.
O dentista e a esposa improvisaram uma barreira para proteger o quarto. “Colocamos o colchão, a cama e uma mesa contra o vidro e passamos cerca de seis horas segurando tudo para o vento não derrubar a porta”, descreveu. As filhas, ainda crianças, se abrigaram em um colchão no chão, embaixo da pia do banheiro, o ponto mais seguro do cômodo.

Do lado de fora, o som era assustador. “Ouvíamos portas se rompendo e gritos de socorro. Fomos orientados a não abrir a porta de forma alguma, pois o vento poderia estourá-la. Foram momentos de puro terror. Várias vezes achei que seria o fim”, relatou o dentista.
O furacão, que se deslocava lentamente — a apenas 4 km por hora —, permaneceu por horas devastando tudo ao redor.

A difícil volta para casa
Após dias de incerteza, a família conseguiu embarcar de volta ao Brasil apenas no dia 2 de novembro, sete dias depois da data prevista. “O voo saiu com quase duas horas de atraso e perdemos a conexão em Lima, no Peru. Tivemos que esperar 13 horas pelo próximo voo e, depois, mais quatro em São Paulo”, contou Marlon.
O trajeto de volta, que deveria durar menos de um dia, se estendeu por quase 48 horas. “Saímos da Jamaica no domingo e chegamos em Sombrio na terça-feira, às cinco da manhã”.
Mesmo diante do trauma, Marlon agradece por ter conseguido proteger a família. “Foi uma experiência que jamais esqueceremos. Ver a força da natureza de tão perto muda completamente a nossa forma de ver a vida”.
Informações e fotos: Dr. Marlon Carcunchinski















