A Prefeitura de Criciúma, por meio das Secretarias Municipais de Assistência Social e Saúde, apresentou oficialmente um pacote de medidas estruturantes visando transformar o acolhimento à população em situação de rua e vulnerabilidade socioeconômica no município. A principal iniciativa é a criação do “Grande Complexo de Atendimento em Assistência Social e Saúde”, batizado pelo prefeito Vagner Espíndola de “Central do Recomeço”. O projeto prevê a aquisição de um terreno de 2,1 hectares no bairro Capão Bonito, zona rural da cidade, para onde serão transferidos a atual Casa de Passagem e o Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (CAPS AD), hoje localizados no bairro Pinheirinho.
Em entrevista, o prefeito Vagner Espíndola detalhou que a mudança não é apenas geográfica, mas metodológica. O objetivo é substituir políticas públicas consideradas obsoletas por um modelo integrado de saúde, assistência e empregabilidade.
“As políticas que temos hoje são as mesmas de 30 anos atrás. É insano pensarmos que vamos conseguir resultados diferentes fazendo as mesmas coisas. Por vezes, o prefeito tem a sensação de enxugar gelo”, declarou Espíndola à reportagem. Segundo o chefe do Executivo, uma triagem realizada em janeiro identificou que o principal entrave para a reinserção social dessa população é o alto grau de dependência química.
Estrutura e Fluxo de Atendimento
O novo complexo no Capão Bonito foi planejado para afastar os serviços de áreas residenciais densas, mitigando conflitos urbanos como o uso e tráfico de drogas registrados nas proximidades da atual estrutura no Pinheirinho. O local contará com separação adequada de perfis e monitoramento contínuo.
A “Central do Recomeço” funcionará como a etapa final de um ciclo de recuperação. De acordo com os dados apresentados, o município triplicou o número de vagas em clínicas de internação, atendendo quase 500 pessoas neste ano. O fluxo estabelecido prevê abordagem social, desintoxicação clínica e, posteriormente, reinserção.
“Nós teremos lá o ‘galpão oficineiro’, um local com máquinas para capacitar essas pessoas, ensinar um ofício e inseri-los no mercado de trabalho”, explicou o prefeito. A estrutura visa atender especialmente aqueles que, após o tratamento médico, não conseguem restabelecer vínculos familiares e acabariam retornando às ruas.
O comunicado oficial da prefeitura reforça que a estratégia de autonomia já apresenta reflexos estatísticos. Houve uma redução no número de beneficiários do Programa Bolsa Família no município, caindo de 5,2 mil para cerca de 4,5 mil famílias, resultado atribuído às ações de inclusão produtiva. Até o momento, as novas abordagens já resultaram no retorno de 20 pessoas aos vínculos familiares e de trabalho, além de 30 indivíduos que retornaram às suas cidades de origem.
Cidade do Autista
Durante a entrevista ao Portal Amorim, Espíndola também atualizou o cronograma de implantação da “Cidade do Autista”, projeto que ocupará a área do antigo Alvorada Clube. A licitação para a obra deve ocorrer entre o final de janeiro e início de fevereiro, com previsão de entrega para o final de 2026 ou início de 2027.
O espaço oferecerá terapias integradas, como equoterapia e cinoterapia, e terá um diferencial importante: o acolhimento aos familiares. “Terá um espaço lá na Cidade do Autista que é só para os pais. Para eles entenderem a importância da sequência das terapias. As crianças que conseguem mais autonomia são aquelas cujos pais conseguem dar continuidade ao tratamento”, finalizou o prefeito.
O Projeto de Lei para a aquisição do terreno no bairro Capão Bonito já foi encaminhado à Câmara de Vereadores para apreciação.












