Audiência pública realizada pela Comissão de Saúde da Alesc (Assembleia Legislativa de Santa Catarina) na manhã desta terça-feira (21), tratou da falta de leitos de UTI pediátricos e neonatais disponíveis na rede pública de saúde de Santa Catarina.
O debate foi proposto pelo deputado e médico Vicente Caropreso (PSDB). Durante a audiência, a Secretaria de Estado da Saúde anunciou estratégias emergenciais para suprir a alta demanda dos leitos de UTI pediátricos e neonatais.
No dia 3 de junho, o governo do Estado decretou situação de emergência em saúde para agilizar a abertura de mais leitos e a contratação de profissionais.
Déficit na atenção básica
A presidente da Sociedade Catarinense de Pediatria, Nilza Maria Medeiros Perin, trouxe à tona a situação crítica das UTIs infantis. Segundo ela, o descaso e a falta de planejamento perduram por anos.
“O aumento de infecções respiratórias típicas da estação foi o estopim. Outro fator é que durante a pandemia, as crianças não foram à escola e ficaram menos doentes. Agora, houve um boom. Os pacientes têm procurado os hospitais e chegando com mais gravidade”, conta.
A médica diz que o problema começa já na atenção básica de saúde. “O atendimento básico está sendo feito, em sua maioria, por médicos recém formados ou enfermeiros. Retiraram pediatras dos postos de saúde da atenção básica. Consequentemente, as crianças acabam procurando serviços de emergência e chegam mais debilitadas”, diz.
Ela acrescenta: “todos que trabalham na saúde estão esgotados. Precisamos internar e não tem vagas. Há pacientes entubados em emergência, em locais impróprios. Há falta de planejamento. Pedimos providências não só a curto, mas a médio e longo prazo”.
O presidente do Simesc (Sindicato dos Médicos do Estado de Santa Catarina), Cyro Veiga Soncini, diz que as UTIS neonatais e pediátricas estão vivenciando uma alta demanda há anos.
“Não basta anunciar que vai abrir leitos. Tem que de fato abrir os leitos. Contratar mais médicos e regionalizar os leitos de UTI. Se não há leitos em determinada região, tem que levar para outro local”, comenta.
O presidente do CRM/SC (Conselho Regional de Medicina de Santa Catarina), Eduardo Porto Ribeiro, diz que a crise na Saúde é sintoma de um sistema que está sempre trabalhando no limite e numa situação de aumento da demanda, acaba entrando em colapso.
“A longo prazo há um problema crônico de planejamento. O aumento substancial da necessidade leitos é somente a ponta do iceberg. Há um déficit de atendimento na rede de atenção básica primária da gestante”, explica.
Aumento das internações
O superintendente de Vigilância em Saúde, Eduardo Macário, aponta que a ocupação de leitos de UTI envolve um ciclo complexo que vai desde a concepção da criança e que a saúde materna foi prejudicada ao longo da pandemia da Covid-19.
Segundo ele, não se trata apenas de uma situação de aumento ou ampliação de leitos de UTI neonatais e pediátricos, mas envolve toda a cadeia da gestação até os primeiros anos da criança.
“Precisamos atacar o problema principal, mas é preciso ver o contexto e evoluirmos na assistência durante a gestação e o parto”, aponta. Macário também mencionou que a sociedade está vivendo uma nova onda de infecções causadas pela Covid-19.
“Já vivemos várias ondas provocadas por variantes de preocupação que sustentaram a pandemia ao longo dos anos. O que temos visto agora, mais recentemente, é uma nova curva de infecções por causa de novas variantes que estão disseminadas em SC e boa parte dos vírus têm acometido de formas diferenciadas, principalmente, por conta da Covid longa e populações mais vulneráveis”, disse.
Conforme Macário, o Estado tinha em média 83 internações por semana de crianças de 0 a 4 anos por SRAG (Síndrome Respiratória Aguda Grave). Entre o final de abril e início de maio houve um aumento de 40% na taxa de internações de crianças dessa faixa etária devido à síndrome.
Sendo assim, o sistema de saúde teve que absorver em menos de uma semana uma grande carga de novos pacientes.
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