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ColunistasCasamos | Fumiko Kouketsu

Casamos | Fumiko Kouketsu

Casamos

Bom, para quem está acompanhando a nossa história, sabe que começamos a namorar oficialmente. Para quem é daquela geração, lá do final dos anos 80, sabe que a diversão era sair para dançar, pelo menos era a cultura da nossa região. Os costumes das cidades pequenas como a nossa são diferentes das cidades grandes. Hoje, fazendo comparações com o mundo em que vivemos, era como se estivéssemos vivendo com a luz apagada, mesmo depois da energia elétrica ser inventada. Nosso olhar estava muito limitado ao nosso quintal, às cidades vizinhas e só. Diferente dos dias atuais, pelo menos para a maioria dos jovens daqui, os horizontes eram restritos. E nem era, no meu caso, por falta de recursos financeiros. Era cultural. O objetivo era casar, ter uma casa próprio, que era algo muito difícil para a grande maioria e constituir uma família.

Logo após o início do nosso namoro, meus pais tomaram uma grande decisão: alugaram o restaurante. O locatário manteve a maioria dos funcionários, e o Joel continuou trabalhando por lá. Mas, agora já não nos víamos diariamente. Então, o volume de bilhetinhos aumentou consideravelmente. Já que não havia whatsApp, também conversávamos por telefone. Engraçado, né? Aqueles aparelhos que a gente precisava discar. Eram pequenas conversas, só para matar a saudade e dizer que estávamos sentindo falta um do outro.

Como o Joel era um excelente funcionário e entendia toda a parte operacional do restaurante, o Vito Basso – a pessoa que alugou – ele solicitou que ele fosse treinar os funcionários em um outro restaurante, em Florianópolis.  Nossa distância aumentou e nos víamos apenas nos finais de semana. Queríamos ficar o tempo inteiro juntos.

Fazíamos planos de ficarmos juntos para sempre. Preciso confessar que sempre acreditei em contos de fadas e em finais felizes. Contudo eu sabia que não havia mágica: a gente precisava construir o nosso reino. Então, há um ditado que diz: “Quem casa quer casa.” Meu falecido sogro usou um método muito eficiente para que o Joel economizasse dinheiro, com o objetivo de ter a casa própria. Para isto, todos os meses, no dia que ele recebia o salário, o seu Antônio separava uma quantia para a aquisição de um terreno. Depois ele começou a comprar materiais de construção. Na época, a maior loja de Sombrio era a Casa Glória. Era para lá que as economias do Joel iam parar e se transformavam em pedras de alicerce, tijolos e cimento. Diferente de hoje em dia que fica fácil financiar uma casa, um carro, naquela época tudo era mais difícil, exigia esforço.

Quero deixar claro, que o meu pai poderia ter nos dado uma casa, como ele havia dado quando me casei pela primeira vez. Mas ele não o fez. Em nós, o desejo de dividir a vida, ser mais para o outro do que para si mesmo era um caminho sem volta. Meus sonhos de menina, permaneceram na mulher que me tornei. Diante te tantos empecilhos, a dúvida nunca foi nossa companheira. Sabíamos muto bem que de algum modo nosso encontro já estava planejado.

Penso que falar de amor, é como tentar explicar as cores para um daltônico, descrever a o céu paga um cego de nascença, é apenas uma possibilidade. Mas a vida segue um plano.

Chegou a hora em que o Joel voltou a trabalhar com meu pai, agora numa imobiliária na cidade de Araranguá. Aprendeu ainda mais sobre negócios, clientes e atendimento. Enquanto estou aqui tentando contar cada passo da nossa vida, concluo que ela se mistura tanto a outras vidas. Desde sempre meu pai nos direcionou para onde ele desejava. Extremamente controlador, não tivemos muitas oportunidades de escolha, pelo menos não profissional.

No final de 1988, iniciamos a nossa carreira de empreendedores. Começamos a trabalhar com vendas diretas com uma empresa japonesa chamada Kenko Patto. Os primeiros colchões magnéticos fabricados do Brasil. Éramos totalmente sem experiência em vendas.

A coragem é um ingrediente essencial em qualquer época da vida e para qualquer coisa que você deseje fazer. Somada à alegria, pode fazer milagres acontecerem. O terreno que onde iríamos construir a nossa casa e os primeiros materiais para levantar a casa, já tínhamos. Nossa rotina era muito focada e o trabalho a nossa diversão. Pela manhã, passávamos na obra e dávamos uma geral no andamento e em tudo que os construtores iriam precisar. Fazíamos o orçamento e íamos para o campo, vender.  Um trabalho de porta em porta. Pelo interior de Sombrio, e toda a região. Todos os dias estabelecíamos uma meta e s[o voltávamos para casa depois de cumpri-la.

Assim, dia após dia víamos a nossa casa se tornar real. Tudo valia a pena: o cansaço, os diversos “nãos” que recebíamos, as estradas esburacadas, tudo o que sentíamos era a alegria de poder trabalhar juntos. Enquanto isto, amadurecíamos.  Quando se é jovem, é impossível imaginar que um dia tudo irá mudar. Esquecemos de observar os acontecimentos ao nossos redor, de analisar como a vida apresenta imprevistos. Eu não sei ao certo se é o excesso de coragem, se é o enorme entusiasmo, e até a inexperiência em viver, a verdade é que não pensamos no futuro como algo ruim, ou preocupante.  Era apenas a certeza de que tudo daria certo. E deu.

Em 25 de março de 1989, reunimos as nossas famílias num jantar muito simples para oficializar a nossa união. Não tivemos lua de mel. Mudamos para o nosso lar, que foi construído com cuidado e carinho. Passamos a noite fora e no domingo já estávamos no nosso cantinho. Para a maioria das pessoas era apenas uma construção: paredes, porta e janelas. Para nós era o lugar que acolheria nossos sonhos mais queridos. Naquelas paredes nós iríamos ter muitos dias de extrema alegria, de emoção, faríamos amor por vezes incontáveis. Poderíamos declarar o nosso amor a qualquer hora e viveríamos em plenitude: ele para mim e eu para ele.

Dias repetidos de trabalho e esforço, satisfação e muitas conquistas. Planos para o futuro breve eram como uma brisa suave que reconfortava nosso coração. Todas as noites, eu deitava em seu peito, só para escutar as batidas do coração dele que me davam a segurança necessária para dormir. É verdade que eu não conseguia ficar nesta posição romântica por muito tempo. Logo virava para dormirmos na nossa posição favorita: conchinha. Me sentindo protegida e amada, fechava os olhos para mais uma noite de sono ao lado do meu amor.

As mesmas paredes me acolhem hoje, nunca mudamos de endereço e nem de casa.

Depois de algum tempo, ele resolveu empreender no ramo da fabricação de elásticos, já que a nossa região estava se tornando um polo da confecção. Esta empresa de meu pai envolvia muita gente: minha irmã e seu marido, o Joel e eu, e outros sócios que não eram nossos parentes.

 

 

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