Pra quem ainda não sabe
Escuta então como eu sou
Nunca me chame de velho
Nem de tio e nem de vô
Eu sou franco no que digo
Quem já fez isso comigo
O que não queria levou.

Velho pra mim é trapo
E tio tenho os sobrinhos
E vô eu tenho os netos
A quem trato com carinho
Assim fui acostumado
Aqui vai o meu recado
Pros estranhos e pros vizinhos.

Vejam só o que aconteceu
Em outro dia passado
Para quem está por fora
Vai achar muito engraçado
Mas para mim não foi fácil
Me deixou encabulado.

Me acordei era cedo
Um pouco meio estressado
Eu tinha que viajar
Me sentia preocupado
Num lugar meio distante
Eu tinha um encontro marcado.

Com um cara no Rio Grande
Eu havia combinado
Fiz a minha oração
Pra mim é dever sagrado
Antes de sair tomei
Um café bem reforçado.

Deixei minha residência
Dirigindo com cuidado
Fui entrando no Rio Grande
Nosso vizinho estado
E na vila São João
Dei carona pra um soldado

No começo até foi bem
Nós papeando educados
Foi me chamando de tio
Eu fiquei desajeitado
E disse a ele, sem tio
Eu fico mais humorado.

Ele me pediu desculpa
Eu disse, fico obrigado
Nosso papo melhorou
Parecia controlado
Me chamou de tio de novo
Eu já tossi engasgado.

Pode ser que até alguém
Me ache meio abusado
Eu respeito a opinião
Porque sou civilizado
Mas se penso diferente
Preciso ser respeitado!

Sorte que o cara já tinha
No seu destino chegado
Levei pro acostamento
Fiquei um pouco parado
Nesta hora nosso papo
Até ficou acertado.

Pensava com meus botões
O quanto sou azarado!
No momento me lembrei
Aquele velho ditado
Vale mais andar sozinho
Do que mal acompanhado.

Assim mesmo, com respeito
Nos despedimos abraçados
Cada um seguiu caminho
Ele meio envergonhado
Dei uma olhada pra trás
Lembrei comigo tu vais
Achar tio pra outro lado!