Como fracassar, saiba mais
Fase boa de recomeçar outra vez É como se Deus dissesse: “Bora para a próxima. Porque daqui em diante vamos ter muitas batalhas.” Mas a gente não sabia. Continuando a história, a chegada do governo Collor modificou a nossa vida e a de milhões de brasileiros. Relembrando um pouquinho, a empresa para a qual vendíamos os produtos vendeu sua marca e deixou o Brasil.
Meu pai decidiu, então empreender em uma indústria de elásticos. Naquela época, as confecções estavam começando na nossa região e as fábricas precisavam buscar elásticos em Brusque. Como sempre, ele envolveu toda a família. Ele reuniu mais alguns amigos e formou uma grande sociedade. Cada um tinha a suas funções específicas. Mas como toda empresa que está iniciando suas atividades, o retorno finaceiro é lento. Desta forma, todos ganhava muito pouco. Eram muitas pessoas para sobreviver do mesmo lugar.
O Joel era o responsável pelas entregas. A maioria das confecções estavam localizadas na região de Tubarão. Como ele sempre teve carisma, logo fez bons contatos. Então, ele percebeu que para aumentar a nossa renda, ele poderia comprar as roupas diretamente dos fabricantes e vender. E assim ele fez. Naquela época, ele começou a vender cuecas. Imagine só. Cuequinhas infantis, bem simples e com um preço muito baixo. Tinha que vender muito para ganhar um pouquinho mais. Comprou a primeira remessa para pagar em 40 dias. No final de semana ele ia vender a mercadoria na fronteira do Rio Grande do Sul. Uruguaiana, Guaraí, aquelas bandas. Ele adorava fazer isto: viajar, conhecer pessoas novas e vender. Estava no sangue dele. Como sempre, muito trabalho, pouco descanso, muitos desafios.
Passávamos muito tempo trabalhando, mas também nos divertíamos muito. Nada extravagante. Uma vida simples, muito simples. Se havia uma coisa que o Joel e eu fazíamos mito era sonhar. Passávamos longas horas planejando nosso futuro: as conquistas que faríamos. Desejávamos ter sucesso na vida, progredir. Sempre pensamos numa vida bem sucedida e feliz. Éramos extremamente focados no que queríamos, nunca medimos esforços e as renúncias que fazíamos, para nós, faziam parte da caminhada para chegar onde queríamos. Sempre fomo muito independentes e buscávamos aquilo que desejávamos. Um valor muito importante para nós era liberdade. Toda a nossa vida, tudo que fizemos era para poder fazer escolhas de forma livre e que estivesse de acordo com o que queríamos para nós.
Assim a vida seguia. A juventude nos dá uma energia capaz de mover montanhas, transpor barreiras, porque temos a vitalidade necessária para seguir sempre em frente. Passamos muitas noite em claro, viajando para entregar as mercadorias, correndo riscos. Dentre tantos contatos lá na fronteira,o Joel encontrou um homem que também vendia mercadorias naquele região. Conversaram e acertaram que este homem, que morava em Guaíba é que faria as vendas dali em diante. Ele seria um vendedor, receberia a sua comissão e isto evitaria que o Joel tivesse que viajar tanto. Era um bom negócio. As vendas aumentaram. Ficamos muito contentes. Tudo estava indo bem.
Mas não demorou para as coisas se complicarem. Como as feitas eram feitas com pagamento em cheques e ainda era a prazo, os cheques começaram a ser devolvidos. E aí começou um ciclo sem fim. Quem é honesto e bom não consegue ver a intenção daqueles que são desonestos e querem apenas lograr os outros. Então, os clientes contavam histórias triste para o Joel e ele acreditava. Renegociava os cheques que não tinham fundos e levava mais mercadoria. Por outro lado, fazíamos a mesma coisa com os fornecedores, ou seja renegociávamos os cheques fazendo o pagamento com os próprios cheques de clientes. Bom, vocês já devem imaginar o final da história. O homem que era vendedor, deu um golpe na gente também. Foi muito tenso. Estávamos devendo muito. Tivemos que vender nosso carro, colocamos a nossa casa a venda também. Para continuar trabalhando, vendendo e entregando as mercadorias precisávamos pedir carro emprestado de outras pessoas. Que situação. Ter que depender de outras pessoas. Por duas vezes, viajando pela madrugada, o Joel dormiu ao volante, carros de outras pessoas. Numa das vezes não teve estragos. Mas numa outra vez, tivemos muitos prejuízos. Além de tudo isto, o pior era o sentimentos de grande dependência. Tínhamos que dar satisfação para outras pessoas, explicar. É gente, difícil. A situação só foi piorando. O que fazer? Como sair desta? Você já viveu algo parecido? De não saber qual caminho seguir? Ver os seus sonhos evaporando e se sentir frustrada por todo o esforço feito. Mas, as pessoas que são honestas e generosas pensam que todas as pessoas são assim. Mas não são. Então, acreditando que os clientes estavam apenas apertados, mas que pagariam o Joel continuou fornecendo as mercadorias.
Ao longo destes anos, muitas vezes me senti desesperada sem ver saída para muitos acontecimentos. Mas em todos eles, eu tive um parceiro com muita fé em Deus. O Joel era quela tipo de pessoas que em todas as coisas ele via algo positivo, ele encontrva uma solução, um jeito. Ele sempre dizia:”Não adianta reclamar. Isto não resolve nada. Amanhã é outro dia e tudo pode ser diferente.
Então, em determinado momento conversei com ele sobre a possibilidade de ele parar. Encerrar esta atividade. Estávamos cheios de dívidas e os clientes não estavam pagando, cada dia mais íamos afundando. Isto significava não ter mais um trabalho, ter muitas dívidas e cobradores na nossa porta. Significava fracasso total. Tudo desmoronara.
Eu não acredito no acaso. Tenho a firme certeza de que tudo que acontece na nossa vida tem uma razão. Pode ser que não seja agradável, aliás, pode ser que seja uma tragédia. É claro que ninguém gosta de sofrer, ninguém gosta de sentir dor e nem de enfrentar situações difíceis. Quem nunca chorou se perguntando “Por que isto, por que comigo, por que agora?” não é? Estas perguntas não tem respostas, são como portas trancadas.
E agora? O que fazer? Qual a melhor solução? Recomeçar. Esta é sempre a melhor maneira de enfrentar os obstáculos. Buscar forças e levantar a cabeça sempre. Foi assim que nossos pais nos ensinaram e assim fizemos. Preparada para o próximo episódio?
