A Canastra
Eles são vizinhos e amigos de infância, os quatro: Miltinho, Arruda, Berenice e Salete. Estudaram juntos até o segundo grau. Conforme é comum acontecer, namoraram entre si e acabaram se casando: Miltinho com a Berenice e Arruda com a Salete. E continuaram amigos, mantendo sempre uma convivência íntima e afetiva. Ah! Também ficaram compadres, claro. Dois casais amigos, sempre unidos para qualquer situação.
Quando começaram a nascer os filhos eles já não podiam sair muito, principalmente à noite, para passear e se divertir fora de casa. Daí então adotaram uma nova forma de lazer, aliás, uma prática que muitos casais ainda adotam nos dias atuais: jogar cartas. Para ser mais específico, jogar “Canastra”. É aquela história de jogar em duplas, casal contra casal, por uma galinhada, um vinho, uma cervejinha, sei lá o que mais. Para ter mais graça, sabes?
Gozado esse negócio de jogar cartas, não? Já notastes, leitor, como as pessoas começam a jogar de brincadeira e a coisa vai se tornando séria? Até hoje ainda não descobri bem o porquê. Certo é que, com o decorrer do tempo, aquilo que era apenas um passatempo passou a ser uma competição. Cada vez mais acirrada. Um casal não querendo perder para o outro. Frescura! Mas acontece.
Vieram aquelas cenas desagradáveis dos maridos xingarem as mulheres quando elas largavam uma carta errada. “Burra!” e “Boca-aberta!” Eram os xingamentos que mais se ouviam. Coitadas, era comum elas perderem a concentração, pois tinham que levantar da mesa do jogo a toda hora para atender alguma criança que chorava. Trocar fraldas. Fazer mamadeiras, enfim.
E aí aconteciam aquelas discussões deprimentes, desagradáveis, pois elas tinham personalidade e não se calavam antes as agressões verbais dos maridos. E reagiam. E como! Não só devolviam os insultos, como traziam novos adjetivos, alguns até revestidos de verdades o quê, às vezes, humilhava o ofendido perante o grupo. Sei dizer que, com o tempo, as discussões passaram a ser autênticas brigas de casal, onde se lavava roupa suja. Um inferno!
Foi o Miltinho quem teve a feliz ideia de sugerir trocarem de parceiros, para evitar atritos. Deu certo. Um formava dupla com a mulher do outro e vice-versa. Assim, passaram todos a se respeitar mais. Até desculpavam-se um com o erro do outro. Começaram, inclusive, elogios mútuos para as boas jogadas.
O clima no jogo ficou tão bom que os casais adotaram a mesma tática para outras atividades. A mulher de um ajudava o marido da outra a resolver as mais variadas situações. E vice-versa de novo. A coisa evoluiu tanto que é comum ver-se agora, nas ruas, um com a mulher do outro, se ajudando. Felizes. Algumas pessoas querem comparar Canastra com Quatrilho… Bem, mas este é outro jogo. No filme “O Quatrilho” os casais acabaram trocando de parceiros… E aqui…