A ira dos deuses
Gosto muito de analisar as explicações, desde as mais simples às mais excêntricas, que tenho lido e ouvido pela minha vida, a respeito de fenômenos naturais que já aconteceram e acontecem por aqui e pelo mundo afora. Valorizo muito as que são emitidas com embasamento científico e racional. Por outro lado, como cultura geral, gosto de conhecer também as emanadas com fundamentos místicos.
Nos primórdios da civilização, o primata não encontrava explicação nenhuma para as coisas, pois ainda não conhecia a Ciência. Assim, procurava justificar os acontecimentos naturais, bons ou ruins, usando as ferramentas que tinha: – Imaginação, misticismo, feitiçaria, magia e divindades. Muitas vezes, por causa de um raio, uma estiagem, uma enchente, uma chuva de granizo, uma peste qualquer, enfim, sacrificava animais ou seres humanos, para aplacar a ira dos deuses.
Qualquer coisa podia ser deus; o Sol, a Lua, um animal, uma pedra, ou mesmo um ser humano, como os faraós. O primeiro povo que trouxe a ideia de um deus abstrato foi o hebreu, com o seu deus particular, Jeová. Depois vieram os cristãos, com o seu Deus universal. Por fim, os árabes, com Alá. Mesmo estas religiões, com suas doutrinas mais coerentes, continuaram pregando que os fenômenos naturais representavam a vontade divina, ou um prêmio para os bons, ou um castigo para os maus, como no caso de Sodoma e Gomorra.
Os sacrifícios humanos acabaram entre os povos civilizados, em troca de rituais religiosos e orações, os quais, se não funcionam para impedir as tragédias e os sofrimentos, pelo menos servem para confortar as criaturas. A religião é necessária na vida de muitas pessoas, pois ela é o recurso extremo, quando não há outra esperança. Houve um momento, porém, em que surgiram a Filosofia e a Ciência. Primeiro os gregos, depois os humanistas e, por fim, os iluministas. O homem passou a ser a prioridade da vida e do Universo. A sua felicidade passou a ser buscada e defendida com o uso da razão e da Ciência. E não só da religião.
Ainda hoje vê-se pessoas preocupadas e apavoradas com pestes, meteoros, tsunamis, terremotos e outras tragédias naturais ou humanas. Buscam e apresentam justificativas as mais estapafúrdias que se possa imaginar. Esquecem-se de olhar o Mundo com olhar da razão. O Universo é assim mesmo. Está em constante movimento e mutação. A Terra é um grãozinho de areia, recheada de ferro e fogo, onde vive um bichinho frágil e insignificante: – O homem. Está sempre em movimento e mutação, sujeita aos mais inimagináveis riscos. É assim, porque é assim. O máximo que podemos fazer é tomarmos algumas precauções. Enquanto isso milhares de cientistas, homens e mulheres, dedicam-se todos os dias, na Terra e no espaço, buscando uma maneira de evitar ou amenizar nossos sofrimentos.