Ah! Essas mães
É madrugada. Faz frio e uma fina garoa cai sobre aquela pequena cidade do interior. Numa casinha simples, de madeira, num bairro humilde da periferia, uma família dorme. O pai, a mãe e, num bercinho de vime, ao lado da cama do casal, um bebezinho com algumas semanas de vida, também dorme, aquele sono sereno dos anjos. Uma paz e um silêncio pairam no ar.
De repente, a criança se movimenta, se agita, e começa a fazer aquela tossezinha que os nenês costumam fazer, antes de começar a chorar. Mas antes que chore, a mãe abre os olhos e os arregala na penumbra do quarto, para melhor saber onde está, algo que acontece a todos nós nos primeiros segundos e minutos que acordamos. Ela aguça os ouvidos como se fosse uma fera na selva. De pronto, identifica onde está, lembra do filhinho e ouve o seu choro.
Ela pula da cama, não calça os chinelos, nem ajeita os cabelos com as mãos, como todas as mulheres fazem ao acordar, e sai caminhando rápido em direção ao bercinho. O leve tecido de sua camisola comprida esvoaça no ar, em face do seu deslocamento veloz. Parece até uma fada, ou talvez seja mesmo.
Chega ao lado do bercinho e se curva, pegando a criança com toda a delicadeza. Já com ele no colo, volta para a cama e senta-se no seu lugar, com o bebê grudado contra si. Seu primeiro ato foi oferecer o seio à boca do menino. A primeira reação da criança foi dar algumas poucas mamadas. Após sorver o leite, afasta a boca. Dá alguns soluços e começa de novo a chorar.
Como mãe inexperiente, ela se preocupa muito. O que será que ele sente? Indaga-se. Pressiona o dedo levemente contra os ouvidos da criança e, após, faz o mesmo com a mão sobre sua barriguinha, apertando levemente. Tudo para ver se é alguma dorzinha que ele tem. Ele eleva um pouco o som do seu chorinho. Ela corre à cozinha, sempre com a criança nos braços e faz um chazinho. Pronto o chá, confere se este não está quente demais, derramando algumas gotas sobre as costas de suas mãos. Vendo que o líquido está apenas morninho, retorna o mais ligeiro possível para a cama, pois teme que a criança e ela própria venham a se resfriar em face do frio que faz.
Ela senta-se de novo na cama e leva a mamadeira aos lábios da criança, que começa a sorver o líquido. O marido, ao lado ronca… O ronco dos justos. O sono começa a se abater sobre ela. Não tendo mais o que fazer, além do que já fez, inicia uma oração à Nossa Senhora. Não uma reza decorada. Mas uma súplica de mãe. Pede que a Santa proteja seu filhinho. Num transe, entre acordada e dormindo, ela vê, ou imagina ver, uma tênue luz azulada aos pés da cama. “É a minha Mãe Nossa Senhora, obrigado Mãe”, balbucia. Ela e a criança dormem. A cabeça dela pende para a frente, com os cabelos em desalinho cobrindo o rosto. Ainda assim, vê-se as marcas deixadas na sua face por lágrimas derramadas.