Além do arco-íris
A gente não sabe bem, exatamente, o marco de quando começamos a ter noções claras da vida e do Universo. Eu lembro-me apenas de fragmentos das minhas primeiras percepções do Mundo em que eu vivia, e que muito me marcaram. Na medida em que o tempo foi passando, eu fui acumulando essas experiências até quê, num determinado momento, elas se aglutinaram e formaram essa colcha de retalhos que hoje é a minha mente.
Na minha mais tenra infância tudo era novidade. Eu observava as coisas e ia perguntando aos meus pais, meus irmãos, professores e pessoas mais velhas, enfim, o que era isso e o que era aquilo? E por que eram assim ou assado? E por quê? Pobre deles. Eu os massacrava com perguntas. Mas agradeço-lhes por terem me ensinado a ler, a escrever e a conhecer um pouco de matemática, geografia e história. O resto aprendi por minha conta nos livros, nos filmes, com as pessoas e observando a natureza… E a vida.
lgumas coisas ninguém conseguia me explicar, porque não sabiam, claro. Para se livrarem de mim, me diziam: – Porque Deus quis assim! E sai daqui guri! Eu ficava triste e angustiado. Aquele tipo de resposta nunca me convenceu. Então eu passei a querer saber quem é Deus. E porque ele agia ora de uma maneira, pelo bem, e ora de outra, permitindo o mal. Nas minhas primeiras aulas de religião eu me apavorava. Passei a ter medo de Deus. Porra! Quase tudo o que eu fazia era pecado; dizer nome feio, surrupiar um doce ou uma moeda de minha mãe, o brinquedo de um irmão e mentir.
Quando me descreveram o Inferno, pensei: Tô frito. Então disseram quê, se eu me arrependesse e rezasse, seria perdoado. Eu, muito esperto, fiquei mais aliviado. Me arrependia, rezava e fazia tudo de novo. Então fui crescendo, não muito, e sempre estudando. Descobri coisas novas e encontrei respostas para algumas perguntas. Não para todas. Na verdade, quanto mais estudei, mais encontrei foram novas perguntas. Mas continuo estudando. Eu quero saber.
Nunca aceitei explicações tipo: Deus quis assim. Mas que diabo! A realidade dura da vida, como o sofrimento humano, não são coerentes com a imagem de um Deus bom e misericordioso que me passaram. Tem que haver algo mais! Por que não me diziam? – Ah! Isso a gente não sabe.
As minhas dúvidas são como o arco-íris. A primeira vez que o vi fiquei fascinado com suas cores. Parecia-me que suas pontas estavam tão perto. Eu corria para encontrá-las. Mas elas fugiam de mim. Eu ficava triste e chorava. Até hoje as minhas dúvidas são como as pontas do arco-íris. Parece-me que vou desvendá-las logo ali. Mas não! Elas fogem de mim. Às vezes me pego em lágrimas. Tudo por querer saber o que há além do arco-íris…