Casar ou não casar, eis a questão
Recebi o teu e-mail minha rara e paciente leitora. Não publico teu nome porque não me autorizaste. Achei o teu questionamento tão interessante que decidi responder-te aqui nesta singela crônica pois, quem sabe, poderá ser útil para mais alguém. Dizes que depois que a gente casa passa a viver só em função do casamento, perdendo a sua própria identidade.
Antes de tudo, quero dizer-te que a pessoa só deve casar por um único e exclusivo motivo: amor. Toda e qualquer união que venha a ser consolidada por outra razão estará condenada ao tédio, à indiferença ou à separação. Unir-se a alguém e constituir uma família significa renunciar alguns projetos e ambições pessoais. Isso muitos não pensam antes de casar. Talvez, se pensassem, não casariam. Só estará pronta para sacrificar alguns sonhos aquela pessoa que amar de verdade.
O casamento nos obriga a uma convivência permanente com alguém. Pequenos caprichos, gostos e manias são sacrificados em troca de sensações agradáveis que sejam comuns a ambos. É ao que os poetas se referem quando dizem “se doar”. Pessoa egoísta, que tem personalidade muito forte, que não abre mão de nada, não aceita isso. Este sempre quer impor a sua vontade, daí então, vêm as frustrações, as mágoas, os descontentamentos e as brigas.
A renúncia de alguns sonhos e ambições individuais fica muito mais intensa quando vêm os filhos. Agora o casal já não mais está disponível para sair a qualquer hora, viajar e ir às festas quando quer, em especial à noite. Tem aquela idade em que as crianças precisam muito dos pais, devido às suas fragilidades. Não devem ficar com qualquer um, salvo pessoa da mais absoluta confiança como, p. ex., os avós.
Fica-se torcendo para que passe logo a infância dos filhos, imaginando-se que tudo vai mudar, pois saberão melhor se cuidar. Será? Quando chega a adolescência deles, piora. Exigem mais dos pais. A gente tem que se dedicar a eles de corpo e alma. Nessa fase os jovens ficam muito vulneráveis. Precisam muito da nossa presença e acompanhamento, pois são inexperientes e inseguros. Estão sujeitos a muitos perigos, em especial às drogas. É quando também nos dão mais despesas com os estudos e suas manutenções estudando e, às vezes, até morando fora. Sobra menos tempo e dinheiro para marido e mulher se dedicarem um ao outro.
Assim é que realmente, minha cara leitora, tu tens razão em parte. Com o casamento a gente passa a viver praticamente só em função da família. Acontece que cada um deve saber o que quer da vida. Tem gente que não nasceu para isso. Não dão o devido valor a uma história de vida. À família. Têm sonhos diferentes. São os eternos solteirões ou aqueles que se separam e não mais constituem outra união.
A receita é que só se deve casar por amor. E jamais deixar o amor morrer. Tem que se estar pronto para sacrificar algo seu. Deve-se respeitar muito a individualidade (o espaço) do parceiro. Durante o casamento realizar apenas os sonhos possíveis e saber sonhar com os sonhos impossíveis. Agora é tudo contigo.