Está faltando ternura
Quem me conhece sabe que eu sou um E.T. Por isso eu observo vocês, terráqueos. Não que eu seja um fofoqueiro, que vive bisbilhotando a vida dos outros. Não. Nada disso. É por dever de ofício. Eu vim para cá, pra Terra, para estudá-los e mandar relatórios para o meu Planeta. Em outras palavras, eu estudo o comportamento humano como um todo e as suas mudanças no curso da História. É o que a Ciência chama de “antropologia”.
Dentre as infinitas formas do ser humano pensar e agir, sempre me intrigou os seus conflitos. Constatei que eles acontecem em virtude da divergência de temperamentos, ideias e gostos. Cada um quer ser dono da razão, então os desentendimentos acontecem. Pessoas tinham entre si uma grande paixão ou um grande amor e, de uma hora para outra, permitiram que eclodisse entre si um desentendimento, uma briga ou uma agressão, que culminou numa aversão recíproca. Daí eu fico pensando: Como é que um sentimento tão forte e tão lindo foi acabar em ódio? Depois de muitas elucubrações, cheguei à conclusão de que valorizaram demais os sentimentos arrebatadores.
É maravilhoso as pessoas sentirem uma paixão arrebatadora por alguém. Mais maravilhoso ainda quando se é correspondido. Sentimento este sempre revestido de uma forte atração sexual. É ótimo! Mas não é tudo. É aqui que reside o âmago da questão. Alguém mais afoito me indagaria: – Como E.T. que não é tudo? Ao que eu lhe responderia: – Observa, meu irmão, minha irmã, como as fortes tempestades são avassaladoras. Mas terminam rápido. Ao passo que a garoa fina é como um afago, demora a terminar. E quando se pensa que acabou… Ela volta.
Os sentimentos muito fortes são como as tempestades. É bom tê-los, claro. Mas não podemos desprezar as sensações delicadas, sublimes, as quais devemos explorar mais e nos deliciar, com sabedoria, entre uma paixão e outra. É aqui, exatamente aqui, que entra a ternura. Aquele sentimento meigo, doce e suave que deve existir entre duas pessoas que realmente se amam. Aquele prazer imenso de dar carinho. De estar junto sempre. A alegria de proteger um ao outro. De enxugar suas lágrimas. De rir junto de tudo… E por nada.
Se conseguires viver isso, estarás efetivamente vivendo um grande amor. O principal não é apenas vivê-lo mas, também, reavivá-lo e conservá-lo. Não procurar a felicidade e prazer só no sexo, mas também, e muito, nos momentos mais simples da vida. A ternura nos faz tratar um ao outro como crianças. E o que a gente mais costuma fazer com as nossas crianças? Senão perdoá-las de suas travessuras? Assim, se aprendermos a nos perdoar mais, a nos aceitar mais, a nos cobrar menos, certamente teremos mais amor em nossas mentes e corações e, consequentemente, mais momentos felizes. Eternos. Conseguiremos evitar, quem sabe, todo o sofrimento e traumas que uma separação sempre causa.