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Crônica | Meu amigo Pé-de-pano | Llantada

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Meu amigo Pé-de-pano

Quando estudante de Direito, lá por 1970, conheci um cara fascinante, de apelido: “Pé de Pano”. Ele tinha uns trinta anos, estatura média, e magro. Tinha bastante cabelo, grisalhos, e trazia-os sempre bem penteados, tipo cantor de tango. Olhos azuis, nariz grego, fala mansa e sempre um sorriso maroto nos lábios. Vestia-se com esmero e sabia fazer combinações de tom sobre tom. Sapatos imaculadamente lustrados. Em que pese ninguém duvidasse da sua masculinidade, falava e tinha trejeitos efeminados, por ter sido criado pela avó, mãe e tias. Encantava as mulheres. Era um “gentleman”.

Como não existe pessoa perfeita, Pé de Pano tinha um defeito, claro: era um sedutor inveterado. As mulheres o adoravam. Ele, porém, tinha um fraco por comprometidas; namoradas, noivas, companheiras e até casadas, por que não? Como eu era muito seu amigo, e gostava dele, tentei dissuadi-lo dessa conduta perigosa. Ele, por sua vez, disse-me: – Impossível! Exclamou-me. Explicou-me que tinha uma atração incontrolável por esse tipo de mulher. Estas aumentavam-lhe a libido. Sentia mais tesão com estas. O perigo lhe excitava. Eu e meus companheiros o largamos de mão.

Lá pelas tantas ele se encantou com uma colega nossa. Linda como o diabo. Morena de olhos verdes. Parecida com a Sophia Loren. Bem, se vocês não sabem quem foi Sophia Loren, nada posso fazer por vocês. Sentimos cheiro de sangue no ar, pois esta colega era noiva de um sargento da heroica Brigada Militar, que andava sempre armado. Pé de Pano jogou todo seu charme pra cima da moça. No início ela vacilou, mas depois cedeu. O homem era um terror. Saíram algumas vezes. Na faculdade sempre juntos. Nunca falta uma alma ruim para escrever uma carta anônima. Aconteceu. O bravo sargento resolveu dar um flagra na noiva. Estávamos alguns de nós, estudantes, num final de noite de sexta-feira, no barzinho da faculdade. Pé de Pano e a nossa “Sophia”, na penumbra, em uma mesa de canto, trocavam carícias.

De inopino! Entrou o noivo. Furioso. Dirigiu-se à mesa dos dois e bradou: – “O que é isso?” Pé de Pano não se apavorou. Era um artista. Na hora fingiu-se de homossexual o quê, para ele, era fácil. Falando como tal, com gestos delicados, lançava olhares lânguidos para o militar, simulando assediá-lo. Disse à “Sophia”: – “Que noivo lindo tu tens… Um gato!” O bravo sargento deixou-se enganar, sentou-se à mesa e ficaram os três conversando e bebendo. Duas semanas após, perguntei ao Pé de Pano, como estava a situação. Ele respondeu-me: – “Mais ou menos, me livrei da moça, mas não consigo me livrar do noivo, que se apaixonou por mim”. Quanto ao apelido, é porque, ao caminhar, não fazia ruído. Deslizava. Assim, estava sempre pronto a dar um bote fatal numa gazela desprevenida. Ou escapar ardilosamente do perigo, como fez naquela noite. A propósito: – Onde andará meu amigo Pé de pano?

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