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ColunistasCrônica | O Mormaço| Luiz Llantada

Crônica | O Mormaço| Luiz Llantada

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O Mormaço

Apelido é algo que nem sempre combina, porém, vai ser muito difícil achar algum mais adequado do que este que deram a um amigo meu cujo verdadeiro nome prefiro não declinar. Tratemo-lo, então, simplesmente por “Mormaço”, que ele tanto gostava e fazia por merecer. Como este jornal vai para lugares distantes, poderá será lido por pessoas que ignoram o sentido da palavra. Para nós sombrienses, “Mormaço” é um indivíduo caloteiro, velhaco, vigarista, mau pagador, sem palavra e outras virtudes do gênero.

Ele era mulherengo, brincalhão, gozador, amigo de todos, excelente companheiro numa mesa de bar, num baile, churrasco ou pescaria. Enfim, onde tivesse festa. Também era um bom parceiro num velório, passava a noite contando piadas. Ninguém chorava. Ajudava quem necessitasse e lhe fosse pedir ajuda.

Foi o maior de todos os devedores inadimplentes que Sombrio já teve. Ele era o terror dos gerentes de bancos. Não houve instituição financeira que ele não ludibriasse. Até o Banco do Brasil, sempre tão zeloso no processo seletivo de sua clientela, dançou. Gostava de esportes, uma vez fundou um time de futebol que tinha o nome de CCF. Lembras? Foi a maneira que ele encontrou de homenagear os frequentadores do Cadastro de Emitentes de Cheques sem Fundos.

Lojas de Sombrio e da região ele passou a perna em todas. Funcionários e gerentes carinhosamente o apelidarem de “SPC”. Até hoje não sei o porquê. Ele botou fogo em duas fábricas de calçados suas, para receber o seguro. Outras três ou quatro empresas ele fez falir. Fraudulentamente, claro. Cerca de meia dúzia de caminhões que ele teve foram-lhe indenizados por seguradoras. Ele dizia que foram roubados. Pessoas maldosas, entretanto, manifestaram ter visto os veículos rodando tranqüilamente no Mato Grosso e no Paraguai.

Sofreu várias demandas impetradas por ingênuos credores que imaginavam poder cobrar-lhe. Mas o Mormaço era liso como “muçum ensaboado” (mais uma expressão nossa). Ele contratava os melhores advogados, aos quais também não pagava. Seus bens eram penhorados, arrestados e seqüestrados. Todos ele conseguia liberar ou esconder, de uma forma ou de outra. Mas tudo na vida tem um fim. O juiz acabou decretando-lhe a prisão civil, por depositário infiel. Ele pulou daqui e dali. Entrou com todos os recursos que nossa honrada justiça conhece, e com alguns que ela desconhece.

Certo dia ele recebeu a visita de um oficial de justiça com policiais militares. Foram prendê-lo. Uma multidão postou-se à frente de sua casa para assistir o impossível: sua prisão. Quando o dedicado meirinho adentrou na sala onde ele estava, encontrou-o sentado num sofá, morto. Sofrera um enfarte. Tinha um sorriso nos lábios, feliz por não ter dado o prazer de alguém cobrar-lhe uma dívida ou sequer prendê-lo. Alguns cidadãos sombrienses cogitam em construir uma estátua em praça pública em sua homenagem. O que vocês acham?

(Publicada em 05.07.1991, no jornal Tribuna Sombriense)

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