O Sedutor II
Gracinha ficou impressionada com o inesperado presente que ganhara de Lucas. Pela primeira vez na vida um rapaz despertara tanto a sua atenção. Ela queria e precisava revê-lo. Aguardou que a procurasse. Não aconteceu. A estratégia do moço era outra. Orgulhosa, não queria dar o braço a torcer. Esperou por uma semana. Decidiu que na segunda-feira iria esperá-lo à tardinha na saída do Banco. Foi o que fez. Aguardou de pé no canteiro do meio da avenida. O presentinho na mão. Sem maquiagem. Vestia uma blusinha branca, mangas curtas e uma minissaia amarela. Sandálias brancas. As cores claras e os olhos azuis destacavam a sua pele trigueira. Os cabelos negros e compridos, sempre soltos.
Lucas, surpreso, mas sorrindo, chegou até ela. Colocou as mãos sobre seus ombros e deu-lhe um beijo delicado e molhado no rosto, deixando por alguns segundos seus lábios quentes sobre aquela face juvenil. Ela espantou-se e recuou. Ele fingiu não notar. Então brincou: – “Demoraste a vir, hein?” Ela respondeu séria: – “Eu não vim pra isso. Vim devolver o presente.” Ele sorriu e perguntou-lhe se não havia gostado, ao que ela respondeu que gostara demais, mas não da sua atitude posterior em não procurá-la.
Lucas argumentou que a boa educação manda que, quem recebe tem a obrigação de agradecer. A moça respondeu que eles não tinham intimidade nenhuma para ele lhe dar um presente… Tão valioso. Ele retrucou: “Desde quando é preciso intimidade para se ter um gesto de delicadeza?” Gracinha então disse que fora criada assim, tanto em casa como na Igreja, a não dar confiança para estranhos. Mas eu não sou um estranho! Eu sou um ser humano. Se tu foste educada dessa maneira, vais ter que te reeducar. Estás sendo indelicada. Não ages como uma dama, o que não é compatível com a beleza e a graça que irradias. O presente é teu. Não queres? Joga no lixo. E outra vez deu-lhe as costas.
Ela foi para casa, jantou e recolheu-se ao quarto. Deitou-se, pôs a cabeça no travesseiro e começou a refletir e a ponderar as palavras de Lucas. E achou que ele tinha razão. Ela tinha exagerado e sido grosseira, ao devolver o presente. Poderia ter levado na brincadeira. Lembrou-se de outras situações semelhantes em que agira assim. Que tinha sido indiferente, fria e humilhara outros moços. Sentiu um profundo remorso. Achou-se desumana e cruel. E chorou copiosamente. Pediu perdão a Deus. Ela não era má. Apenas despreparada para a vida. No dia seguinte, à mesma hora, no mesmo local esperou Lucas sair do Banco. Quando ele a viu, veio correndo abraçá-la. Nada falou. De cara, deu-lhe um beijo na boca, demorado e molhado, sentindo o gosto salgado das lágrimas que se misturavam com a saliva dela. Os grandes amores… As grandes paixões nascem assim.