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ColunistasCrônica | Os beija-flores| Luiz Llantada

Crônica | Os beija-flores| Luiz Llantada

Os beija-flores

Na frente da janela do meu escritório tem um pé de “Pau-brasil”. Ele reina imponente, consciente da sua nobreza e da sua tradição histórica. Não esconde sua vaidade pelo fato de ter emprestado o seu nome para um dos maiores países do planeta Terra. Eu disse reina, porque em torno dele existem dezenas de outras plantas; arbustos e flores. O meu conhecimento científico a respeito da flora só me permite identificar uma ou outra espécie, dentre elas uma eu conheço bem, desde criança, que é a “Espada-de-são-jorge”.

A respeito da “Espada de São Jorge”, lembro-me de quê, quando fui olhar a casa para comprá-la, a proprietária disse-me que ela mesma as havia plantado. Muito circunspecta, a referida senhora sussurrou-me ao ouvido que eu devia deixá-las ali, pois, mesmo não sendo bonitas, eram muito boas contra “mau-olhado”. Pensei comigo: – Mas que diabo! Por que alguém haveria de ter inveja de mim? Ou me querer mal? Mas, como dizem os espanhóis: “Yo no creo em brujas, pero que las hay, las hay”! Como sou filho de espanhol mantive-as ali. Até hoje.

Depois desse ligeiro comentário sobre a flora do meu jardim, passo à fauna. É claro que onde têm plantas têm bichos. De maneira que, ali à minha frente, desfilam diariamente pequenos insetos, gatos, cachorros e outros animais, de vários tamanhos e tipos. Os que mais me encantam são os pássaros. Seus voos, acrobacias, cantos e alaridos que fazem quando se assanham me obrigam a parar o que estou fazendo para admirá-los. Eles me fascinam. Minha imaginação voa.

Sem ter a pretensão de ser um ornitólogo, até porque eu acho esta palavra feia, a espécie que eu mais gosto são os beija-flores. Um dia comentei com a minha mulher a respeito da beleza, da delicadeza e da graça desses bichinhos. Então ela me surpreendeu com um presente. Vejas, leitor, como um presente pode fazer uma pessoa feliz, por mais simples que seja. Ela deu-me uma espécie de bebedouro para pássaros. No caso para os beija-flores. Um recipiente de plástico transparente, com um telhadozinho vermelho e, em sua base, três flores coloridas. No centro dessas flores tem um orifício pelo qual os colibris introduzem o bico para sorver o seu conteúdo: água com açúcar ou mel. Penduram-se eles em galhos de árvores ou ficam parados no ar e vão nele beber. É sublime.

Eu envolvido com computador, telefone, códigos, livros, processos e conflitos humanos, encontrei no balé dos beija-flores um bálsamo para as mazelas da vida. Notei que só o beija-flor consegue ficar estático, suspenso, no ar. Outros pássaros, coitados, tentam mas não conseguem. Fiquei refletindo que nós humanos também somos assim; às vezes queremos imitar pessoas que têm certas habilidades e não conseguimos, porque não as temos. Refleti que temos que ser humildes. Conformarmo-nos em ser como cada um de nós é. Uma individualidade. Diferentes uns dos outros. E tentar ser feliz exatamente como somos.

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