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ColunistasCrônica | Trégua de Natal| Luiz Llantada

Crônica | Trégua de Natal| Luiz Llantada

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Trégua de Natal

Inacreditável, mas na Primeira Guerra Mundial (1914/1918), aconteceu um movimento espontâneo de paz e confraternização, em comemoração ao Natal. A idéia não partiu dos governos dos países envolvidos, ou sequer dos comandos dos exércitos. Não. Nada disso. Foi única e exclusivamente o espírito natalino que envolveu alguns soldados inimigos, ingleses e alemães, em pleno front.

A I Guerra Mundial foi considerada como a última entre cavalheiros, porque os combates aconteciam nos campos de batalha e não nas cidades. Um país invadia o outro e o agredido aguardava-o em campo de batalha. Quando os exércitos se encontravam, estacionavam a certa distância um do outro e cavavam trincheiras para se abrigarem. Entre elas ficava um espaço vazio onde ocorriam os combates. A arma mais usada era a baioneta. Este espaço que dividia as trincheiras era denominado Terra de Ninguém. Antes dos soldados saírem das trincheiras para se matarem, elas eram intensamente bombardeadas pela artilharia inimiga com uma “chuva de aço”.

Os homens passavam meses e anos nessas condições, com raros dias de folga para visitar suas famílias. Banho não havia. As necessidades fisiológicas eram feitas próximas às trincheiras ou dentro delas. Era perigoso ou impossível se afastarem. Chuvas intensas transformavam tudo num lodaçal. Sem contar a neve incessante no inverno. Os cadáveres se acumulavam na “terra de ninguém”. Era impossível recolhê-los sob pena de se tornar alvo fácil de atiradores, bombardeios e minas. Comida e água nem sempre chegavam. Viviam sob o domínio do medo, da dor, da fome, da sede, do frio e do fedor insuportável de fezes e de cadáveres em putrefação.

No Natal de 1914, primeiro ano da guerra, em Ypres(Bélgica), alguns soldados fizeram uma trégua espontânea. Pararam de lutar e começaram a cantar. No início, cada exército em seu idioma e, após, ambos num coro de um só idioma, revezando ora de um ora, de outro país. Confraternizaram trocando comidas, bebidas e cigarros. Até uma partida de futebol, na neve, aconteceu. Isso causou revolta nos governos e nos comandos dos exércitos envolvidos, que os mandaram voltar imediatamente à luta.

E nós aqui neste Brasil maravilhoso, em pleno verão, em paz com as outras nações, mas muitos irmãos em conflitos entre eles mesmos. Guerra da criminalidade, guerra no trânsito, entre vizinhos, dentro das famílias e mais as picuinhas políticas. Será que não daria para fazermos pelo menos uma Trégua de Natal? Respeitar-nos e perdoar-nos mais uns aos outros. Não cometermos excessos. Não nos agredirmos dentro dos lares, nos bares e nas ruas. Pelo menos, nesses dias sagrados? Se aqueles soldados o fizeram num clima e ambiente altamente hostil, num verdadeiro Inferno, não poderíamos nós ao menos tentar uma trégua aqui neste Paraíso?

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