Uma historinha de amor
Em 1983, em Sombrio, poucas pessoas tinham telefone em casa. Assim, o jovem marido, Ticiano, deu uma fugidinha do serviço e foi avisar a esposa para que ela se organizasse. Ele tinha recebido um dinheiro que não esperava. Iriam então sair à noite, jantar fora numa cidade vizinha e, após, passariam a noite num motel.
Pega de surpresa, a doce Aurora, sua jovem mulher, mesmo atabalhoada com os compromissos da casa, adorou a ideia. Saiu a pedir socorro da mãe, para que ficasse com as crianças à noite. Providências daqui e dali; fraldas, mamadeiras, comida… O diabo! Não podia deixar nada faltando no lar. Pediu para a empregada que dormisse no emprego para fazer companhia a sua mãe. Dirigiu-se a duas ou três lojas da cidade e comprou algumas roupinhas íntimas. As mais sensuais possíveis. Uma correria o resto do dia, até deixar tudo em ordem.
Ela tinha o cuidado em ver o marido sempre feliz, mas também queria ser feliz. Ter momentos de prazer. Namorava Ticiano desde a infância. Tiveram sempre uma convivência romântica, com amor e compreensão. Ah! E muita tesão. Logo que casaram vieram os filhos. Naquele tempo os métodos anticoncepcionais ainda não eram muito eficazes. E a televisão não pegava bem. Veio o primeiro e logo o segundo filho. Uma loucura de felicidade. A dedicação à família, não havia como negar, atrapalhava um pouco o romantismo do casal. O amor, porém, estava acima de tudo.
Veio a noite e lá se foram. Jantaram num aconchegante canto do restaurante. Fazia frio e chovia. Ela confiou a escolha do cardápio e do vinho ao marido. Após a janta ainda ficaram um bom tempo à mesa, conversando, ouvindo músicas e saboreando o vinho branco. Falaram de reminiscências. Recordaram os momentos bons e os difíceis que passaram. Riram muito um da cara do outro, de suas mancadas. Um casal jovem e apaixonado. Duas crianças rindo à toa. Ambos já imaginando a noite mágica que lhes esperava. Ele achava sua mulher um doce; bonita e sensual. Amava-a com toda a pureza de sua alma. Acertavam-se bem na cama e fora dela.
Enfim sós, no quarto. Na penumbra. Abriram uma garrafa de champanha, prolongando aqueles momentos de suprema ternura recíproca. Trocaram beijos e carícias como só amantes apaixonados sabem fazer. Chegando a hora do clímax, ele decidiu tomar um banho. Ela permaneceu na cama. Sonhadora. Mas, o dia atarefado que tivera, a boa comida e a bebida fizeram com que ela caísse num sono profundo.
Quando ele saiu do banho viu a esposa dormindo, de roupa e tudo. Como uma criança. Ele entendeu que o dia agitado fizera com que ela desabasse. Mesmo porque ela habitualmente não bebia. Ele tirou-lhe delicadamente as sandálias, beijou-lhe os pés e os cabelos. A seguir, deitou-se bem devagar ao seu lado, para não acordá-la. Abraçou-a com ternura, puxando-a para junto de si. Ficou aspirando profundamente o perfume suave que ela exalava e sentindo o calor de seu corpo. Pensou consigo que jamais poderia amar tanto outra mulher como amava a sua. E também dormiu. Nos lábios de ambos percebiam-se dois sorrisos angelicais.