Velhas fotografias
Saudosista? Talvez. Mas eu sinto uma saudade imensa de um tempo ou de um lugar que não lembro neles ter estado ou vivido. Emociono-me vendo fotografias em preto-e-branco, antigas, de cidades, campos, ruas, casas e pessoas. Em algumas reconheço que já estive, ou as conheci, noutras não. Identifico algumas pessoas já morreram, mas eu as olho e lá estão elas, sorridentes ou sérias, com os olhares fixos em mim. Saudade.
Enternecido, fico admirando as imagens com imenso e inexplicável carinho. Vejo caminhos de terra, no meio deles grama rasteira com capoeiras às margens. Logo atrás, matas fechadas, ainda não desvirginadas. Observo sulcos profundos de rodas de carros de bois. Para onde levariam aquelas trilhas? Fico me perguntando, comovido. Sinto uma vontade enorme de caminhar por eles, sentir o cheiro das matas e ouvir o canto dos pássaros.
Noutras observo os casarios. Analiso os mínimos detalhes daquelas construções simples e rústicas. As cercas, os currais, os poços, as árvores frutíferas, enfim. Tudo aquilo que os antigos quintais continham. Vejo-me por ali, criança, correndo entre o arvoredo e por tudo, subindo em árvores, comendo frutas colhidas do pé, na hora, sem lavá-las. Sempre brincando com um ou mais cachorros, o que jamais faltava. De repente, me assalta o som da voz da minha mãe, gritando, me chamando para eu me lavar e almoçar.
E as pessoas nas fotos? Avós, pais, namorados, filhos e netos. Tímidos, em pose para foto. Não se mexiam para não estragar a imagem. Naquele tempo as câmaras não captavam com nitidez imagens em movimento. Homens maduros ou velhos, com enormes bigodes. As mulheres com os costumeiros vestidos branco, tão comuns na época. As meninas com vestidinhos simples e os meninos calças curtas. A maioria das crianças de pés no chão.
Os jovens trocavam olhares inocentes com as moças. Disfarçando, procuravam fazer com que suas mãos se tocassem ou pegassem nas delas, tão suaves, mornas e delicadas. Nos lábios úmidos sorrisos marotos, contidos, típicos da adolescência campeira. Não conseguindo esconder inícios de namoros. A beleza pura, autêntica e ingênua de um tempo que não existe mais.
Onde serão esses lugares? De quem seriam aquelas casas velhas? Simples. Que sonhos teriam povoado a mente e a imaginação das pessoas ao projetá-las e, por fim, construí-las? Depois, a chegada dos filhos. Os pais, sentados à frente de suas singelas moradas, conversando e vendo os filhos correr de um lado para o outro. O alarido das crianças e o latir da cachorrada.
Onde estarão todas aquelas pessoas agora? O que faço para evitar essas lágrimas que insistem em inundar os meus olhos? Sinto uma vontade imensa de entrar para dentro dessas fotos. Olhar as paisagens. Falar com aquela gente. Participar de suas alegrias, emoções e compartilhar de suas tristezas.