Tenho vivenciado dois sentimentos simples, porém conflitantes com relação ao retorno às aulas presenciais. Um é a saudade, o outro é o medo. E olha, não estou falando de conteúdo, de nota, de cumprir cronograma. Nesse período de pandemia estamos sendo convidados a vivenciar nossas emoções mais primordiais.
Vou começar falando da saudade. Dia desses recebi alguns vídeos dos meus alunos. E chorei. Chorei porque eles cresceram, e eu não vi. Chorei porque queria abraçar, mexer no cabelo de um, cutucar o outro, olhar de um jeito que só alguns entendem. Chorei porque perdi essa fase dos meus alunos, e ela não vai voltar. Chorei porque não sei se vai ter formatura, porque não vai ter apresentação de projetos para a comunidade, porque não teve festa junina. Chorei porque professor só dura fazendo o que faz pois gosta de gente, e gostar de gente não rola só pelo computador.
Por outro lado, estou com medo. Medo de voltar para uma escola onde perdemos colegas, escaninhos que ficarão lá, com o material de professores que não vão voltar. Medo de encarar esse luto, que uma hora ou outra vai se tornar mais palpável. Medo de ser a próxima, ou do próximo ser novamente próximo. Medo de encarar de perto os lutos das famílias dos meus alunos. Medo das consequências de tudo isso, na economia, na rotina, na gente.
Sei que não posso, e não devemos ser dominados nem pelo medo, nem pela saudade. A saudade está lá, num passado que não volta. O medo paralisa no agora. E o futuro? E o amanhã? Ele é composto exatamente do que carregamos até aqui, e do que faremos agora. E o que podemos fazer agora é não baixar a guarda. Não deixar a saudade tomar conta e esquecer dos cuidados devidos, nem deixar o medo paralisar nossas vidas.
Então vejo na opção de cada família sobre o retorno algo válido, porém algo que deve ser muito bem pensado e estruturado. Entendo que há uma diversidade de demandas que somente a escola dá conta em determinados casos. Alunos sem acesso à internet. Alunos cujas famílias não dão conta de gerir e auxiliar nas atividades escolares. Alunos que têm necessidades especiais para a aprendizagem. Mas também entendo que há educadores se expondo, a si e às suas famílias, para que esse aluno possa retornar para a escola presencialmente. Espero que cada família, ao tomar essa decisão, seja justa com as necessidades da sua família, claro, mas sem esquecer que além dela, outras famílias também são afetadas.