Em cada coração uma saudade
A maior certeza que temos na vida é a morte. E, no entanto, pouco pensamos nela. Que bom que é assim, senão não teríamos gosto pela vida, pois viveríamos constantemente preocupados. Há um dia do ano, porém, em que somos obrigados a pensar nela. É o Dia de Finados, que se celebra em 02 de novembro, quando reverenciamos nossos mortos. Em cada coração uma saudade irá aflorar.
Ninguém até hoje conseguiu explicar cientificamente a razão da nossa existência efêmera e fugaz. Religiosos, filósofos e cientistas já externaram suas opiniões. Para mim tudo são meras cogitações. Assim, vamos vivendo. Cada um crendo na tese que lhe seja mais coerente. Ou em nenhuma.
Os religiosos acreditam na vida eterna, tudo bem. Sabemos que o ser humano é composto de um corpo físico (matéria), mas a mente humana (inteligência, alma ou espírito) não, porque é energia, é abstrata, é volátil. Energia não se deteriora como a matéria. Ela paira, flutua, no ar. Irá prosseguir o seu caminho. Para onde não sabemos bem, mas provavelmente haverá de habitar um outro corpo, para viver uma outra vida no infinito do desconhecido. Quem sabe…
A morte é mais um dos fenômenos do Universo. Dentro da realidade que conhecemos da vida, não há como reconhecer que ela é necessária. Nosso corpo vai se deteriorando de tal forma, que a única solução é a morte deste corpo. Através dela a vida irá se renovar num outro corpo. Seria horrível se as pessoas não morressem, pois não haveria espaço nem alimentos na Terra para abrigar todos. Nenhum sistema social, econômico ou político conseguiria resolver este problema.
A propósito de imortalidade, uma lenda da tradição oral cristã, fala de um personagem mítico, “o judeu errante”, chamado Ahasverus, o qual teria esmurrado Jesus e lhe negado um copo d’água, quando este tombara diante de sua porta. Jesus, humilhado, açoitado e sangrando, deteve-se um minuto, recuperando forças para prosseguir o seu calvário. Ahasverus parou seus afazeres, chegou-se perto de Cristo e, empurrando-o, vociferou colérico: “Vai andando! Vai logo!” Jesus apenas olhou-o e respondeu-lhe mansamente: “Eu vou e tu ficarás até a minha volta”. E Ahasverurs está até hoje errando pelo mundo, sem caminho certo… E sem morrer.
Quis a lenda dizer que a imortalidade não é um prêmio, mas um castigo. Nossa preocupação não é tanto a morte em si, mas como e quando ela acontecerá, e mais a angústia, claro, de nos separamos de quem amamos. O que me conforta é que ficará em cada coração uma saudade.