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Entrevista: “Não faremos relaxamento que traga prejuízo para a população”, diz André Motta

Santa Catarina volta a viver momento de atenção redobrada no combate à pandemia da covid-19. Na Capital, o número de casos e mortes voltou a subir. A nova gestão da governadora interina, Daniela Reinehr (sem partido), tem demonstrado que mudanças na gestão da pandemia devem ser implantadas e a apreensão é de que isso ocorra de maneira deliberada, sem levar em consideração o que apontam a ciência e áreas técnicas do Estado.

Em entrevista à Coluna Pelo Estado, o secretário André Motta Ribeiro, que agora sim foi confirmado para seguir à frente da gestão da crise, fala um pouco sobre o momento que o estado atravessa. Ele descarta que estamos vivendo uma segunda onda e explica que o aumento dos casos ainda é efeito da crise que teve início em março.

Motta promete que não adotará medidas sem lastro técnico e diz ter esperanças de que esse também não é o sentimento da nova chefe do Executivo.

Ele também comenta as declarações do deputado que incentivou que pessoas saíssem às ruas sem máscara no feriado de Finados e diz que portarias de combate à pandemia serão sim revistas, mas sem colocar a vida de pessoas em risco.

 

[Pelo Estado] – Em outubro, o número de novos casos de infecção pelo novo coronavírus na Grande Florianópolis bateu o acumulado de casos em julho. Podemos dizer que a região da Capital vive uma segunda onda?

André Motta – Na verdade, nós estamos passando por um aumento dos casos e agora não conseguiremos dizer, no nosso estado, se teremos uma segunda onda. Ao contrário do que aconteceu na Europa ficou muito claro. Lá tivemos um pico de casos e mortes e depois essa curva se reduziu a quase zero. Agora, a Europa toda está mergulhada em uma segunda onda tão grave ou pior que a primeira. Em nosso estado nós tivemos um aumento de novos casos muito ruim no final de julho e início de agosto, os casos diminuíram, as mortes diminuíram, mas estabilizaram em um patamar muito alto. Na verdade, o aumento do número de casos ainda me parece estar dentro de uma mesma onda. De qualquer forma, a consequência é a mesma. Nós temos casos aumentando, óbitos aumentando, e o cuidados e preocupações têm que ser da mesma forma.

 

[Pelo Estado] – O senhor atribui o aumento ao relaxamento da população? Acha que o Estado errou em algum momento ao liberar um ou outro setor de forma precipitada, como transporte coletivo e outras atividades, como as quadras de futebol?

André Motta – Não, não acho que o Estado errou. Eu tenho muita convicção no trabalho que está sendo pelo Estado e pelo COES [Centro de Operação de Emergência em Saúde], que trabalha com diversas entidades em conjunto. O regramento das portarias é muito claro. Com discussões técnicas. O que acontece, infelizmente, é uma confusão da liberação das atividades com regramento e relaxamento dessas atividades. Relaxamento é quando as instituições promovem ações que não seguem regras. Há regras postas, inclusive para o próprio transporte público. Lembrando que o regramento do transporte municipal é de responsabilidade dos municípios. São regras que trazem segurança para a população. O que acontece é que há a todo momento em Santa Catarina, tanto no questionamento da legitimidade do governador [Carlos Moisés], do próprio secretário da Saúde e da campanha política para prefeitos, uma confusão. As pessoas não querem acreditar que o que está posto, sugerido, o que está nos decretos, portarias e notas técnicas é o coreto. Aí o vírus que ainda está circulando entre nós aumenta essa velocidade de contágio. É o que está acontecendo neste momento.

 

[Pelo Estado] – Nos últimos dois feriados e o que vimos foi praias lotadas, eventos de toda natureza, e um desrespeito total às normas de segurança. Como o senhor avalia essas cenas de pessoas lotando praias e eventos?  

André Motta – Nós como sociedade precisamos evoluir muito. É compreensível que as pessoas já não tenham mais paciência e não queriam mais seguir regras, faz parte da cultura do nosso povo. O Estado não tem condições de fiscalizar sozinho, assim como o município também não tem. Estamos mobilizados junto com as forças de segurança pública e as vigilâncias estadual e municipais para fiscalização e orientação. Mas essa é uma responsabilidade de todos nós. As pessoas precisam entender que estamos sofrendo um ataque de um inimigo invisível, uma doença infectocontagiosa, que se transmite pelo ar e contato próximo. Se não tivermos isso muito claro em nossas cabeças nós seremos derrotados pelo vírus.

 

[Pelo Estado] – A governadora interina manifestou desde o início da sua gestão que vai rever as políticas de combate à pandemia. O senhor assina em baixo um relaxamento das regras sem embasamento técnico e científico?

André Motta – A leitura que eu faço, e é uma leitura que é desse secretário também, é que vivemos um novo momento da pandemia. Eu já coloquei para a equipe técnica que precisamos fazer uma revisão de todas as portarias e notas técnicas que foram publicadas desde março deste ano. O momento é outro, nesse período aprendemos com a gestão de crise. E quando nós definimos que precisamos de diagnósticos mais rápidos e mais qualificados, que precisamos tratar precocemente as pessoas, fazer a rastreabilidade dos casos, e temos que fazer sim ajustes nas nossas portarias e notas técnicas. Nunca jamais deixando de lado a ciência e a segurança em saúde pública. Mas, por exemplo, o que era serviço essencial em março, agora em novembro é outro. Lá em março nós definimos como serviço essencial, postos, farmácia, mercados forças de segurança pública e serviços de saúde. Hoje nós temos outras necessidades. Por exemplo, temos crianças em situação de risco que precisam de apoio psicológico. Esse reajuste de readequação é natural do processo, acontece em todos os ambientes. Nós, e acredito que essa não é a intenção da governadora, não faremos nenhum tipo de relaxamento que traga prejuízo em saúde para a população. Talvez tenhamos algumas interpretações equivocadas, mas o secretário de saúde esta aqui  trabalhando nessa métrica.

 

[Pelo Estado] – Como você e a sua equipe técnica vê, por exemplo, um deputado, como foi o nosso caso aqui, incentivar a burla das regras de cuidados como o próprio uso da máscara?

André Motta – Algumas pessoas que são pessoas públicas e que têm interferência na opinião pública deveriam ter o mínimo de responsabilidade. É lamentável e acho que essas pessoas não tenham noção de que estão em cargo público para proteger as pessoas e pagas com dinheiro público. E bem pagas. Me preocupa, em alguns momentos até nos indigna. Nós temos muita seriedade no nosso trabalho e não dá para admitir esse tipo de situação. Estou aguardado a própria pessoa vir a público dizer que foi um equívoco.

 

[Pelo Estado] – Como fica a sua situação à frente da Secretaria de Saúde, você sabe se continua no cargo? Se sim, terá carta branca como vinha sendo a sua gestão no governo Moisés?

André Motta – Na verdade é atribuição do secretário de Estado estar à frente dessa política, mas o secretário não decide nada sozinho e hierarquicamente se submete ao governo do Estado. O secretário de Estado também tem um colegiado formado por técnicos das Vigilâncias Sanitária e Epidemiológica, do Centro de Emergência, e outros. As decisões são colegiadas e levadas ao gestor maior. É dessa forma que eu trabalho. Sou extremamente técnico, sei muito onde estou inserido e qual é meu papel. Acredito que isso faz parte do momento de transição e estou há 11 dias no cargo esperando para ter uma conversa mais próxima com a governadora. Mas ela sabe que a pasta está sendo bem gerida.

 

*A entrevista com o secretário André Motta foi realizada na quinta-feira, dia 5 de novembro. No mesmo dia, no fim da tarde, a governadora chamou André Motta e, segundo informou assessoria da Saúde, chegaram a decisão e fizeram um acerto de que ele segue à frente da pasta. Na sexta-feira, o secretário emitiu a revisão de diversas portarias relacionadas às políticas de combate à pandemia. Entre elas a portaria que autoriza aulas presenciais e a que permite a realização de eventos e competições esportivas de todas as modalidades. De acordo com a portaria, assinada pelo secretário de Estado da Saúde André Motta Ribeiro, a autorização é válida partir do nível de risco Grave (cor laranja) da classificação da matriz de risco do Estado. 

 

Fábio Bispo/Pelo Estado

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