A união da fisioterapia pélvica com o suporte de uma doula representa a vanguarda no cuidado com a saúde da mulher, oferecendo um preparo físico e emocional essencial para a gestação e o parto. Em entrevista à Rádio 102.9 Amorim FM, Karina Franco Matos, que atua como fisioterapeuta pélvica e doula em Morro Grande e Araranguá, enfatizou que a informação e o conhecimento são cruciais para a segurança e a autonomia feminina.
“Eu me vi nesse lugar de poder ajudar outras mulheres a ser uma ferramenta de trazer qualidade de vida e saúde,” disse Karina, ao explicar sua motivação em se especializar na área. Ela ressaltou a importância de educar sobre a anatomia feminina, muitas vezes negligenciada. “Eu aprendi sobre a anatomia da região íntima do meu corpo, eu entendi o funcionamento da região íntima do meu corpo, coisas que eu nunca tinha escutado falar em lugar nenhum.”
Dupla especialização garante preparo integral
A profissional detalha que as duas áreas se complementam, oferecendo um suporte integral:
- A Fisioterapia Pélvica é a especialidade focada na preparação física, trabalhando o assoalho pélvico – o conjunto de músculos que sustenta bexiga, intestino e útero. “O que a fisioterapia pélvica faz é prevenir e tratar disfunções que estão ligadas a esse músculo,” afirma.
- A Doula oferece o suporte emocional e a educação perinatal. “Auxilia gestantes a se prepararem para o processo da gestação, parto, amamentação e puerpério. E além de auxiliar nessa preparação… a doula também está presente com a mulher durante o trabalho de parto,” esclareceu.
Incontinência urinária: comum, mas não normal
Um dos pontos mais importantes da entrevista foi o esclarecimento de um mito comum: a perda urinária durante a gravidez.
“Durante a gestação não é normal ter perda urinária. Seja porque você está com a bexiga muito cheia, seja porque você tossiu ou deu uma gargalhada, ou durante uma atividade física, né? […] É uma disfunção que pode e precisa ser tratada para que o quadro não vá piorando,” alertou Karina.
O trabalho na gestação visa fortalecer e, principalmente, dar consciência de relaxamento ao assoalho pélvico, “para quê? No momento do parto, ela consiga relaxar o seu assoalho pélvico para facilitar a descida do bebê e prevenir lacerações,” pontuou.
Parto humanizado é protagonismo feminino
Karina Franco Matos defende que o chamado “parto humanizado” deveria ser a norma, pois ele preconiza o respeito à mulher e suas escolhas.
“O parto humanizado preconiza que a mulher seja a protagonista do seu trabalho de parto. Então, que ela tenha liberdade para se movimentar, que ela tenha liberdade para escolher posições, para que ela tenha liberdade para expressar a sua dor,” define a doula.
A movimentação durante o trabalho de parto é incentivada pelas evidências científicas, sendo um fator que pode diminuir a duração do parto em até três horas e reduzir a percepção da dor, desassociando-a do sofrimento, como detalha a profissional: “O que as evidências mais recentes mostram é que mulheres que se movimentam durante o trabalho de parto e têm liberdade para escolher posturas e movimentos, têm uma duração de trabalho de parto menor em até três horas.”
Tratamento que vai além do físico
Além da gestação, a fisioterapia pélvica atua na saúde sexual feminina, tratando disfunções como a dor durante a relação sexual, um sintoma que, segundo Karina, é “muito normalizada e que não é normal entre as mulheres.”
A profissional relatou um caso emocionante, onde o tratamento da dor física levou à cura de um trauma emocional: “Um dos motivos de uma mulher desenvolver dor durante a relação, de ter esse excesso de contração do assoalho pélvico, é a situação de abuso sexual. Porque é como se fosse o seu corpo desenvolvendo uma barreira, um mecanismo de proteção,” explicou. O acompanhamento resultou em “uma cura não só física, mas ali também teve uma cura mental, emocional daquele processo que ela tinha passado durante a infância.”
Apesar da grande procura de gestantes, a fisioterapia pélvica também beneficia mulheres que passaram por cesáreas, atuando na recuperação e alívio de desconfortos, muitas vezes utilizando recursos como o taping no pós-parto para diminuir edema e sensação de flacidez abdominal.
Conhecimento é empoderamento
Para finalizar, a profissional deixou uma mensagem a todas as mulheres que desejam uma gestação mais saudável e confiante: “Eu acredito que se eu pudesse deixar uma única mensagem seria estudem, se preparem, porque o conhecimento é o que empodera. Não existe forma maior de a gente se sentir segura, com autonomia, do que através da informação, através do conhecimento.”