A novela “Terra e Paixão”, da Rede Globo, levanta uma discussão séria: os riscos do uso excessivo de medicamentos. A personagem Petra, interpretada pela atriz Débora Ozório, é uma dependente medicamentosa, que vive em meio a angustiantes tentativas de parar ou reduzir o consumo das medicações.
O folhetim nos leva a refletir sobre o uso prolongado ou sem indicação médica, de hipnóticos, ansiolíticos, antidepressivos, antipsicóticos, estabilizadores de humor, entre outros remédios que podem provocar tolerância e dependência, além de outros efeitos colaterais, decorrentes de uma utilização banalizada pelo ser humano, para o tratamento de diversos quadros e sintomas psicoemocionais.
Porém, não vamos colocar os medicamentos como vilões. Pelo contrário, eles são muito importantes no sucesso do combate a doenças, sejam elas físicas ou mentais. O problema é o excesso e prolongamento deste uso, além da automedicação.
Se faz urgente a promoção do uso racional de medicamentos, uma vez que, a automedicação é um hábito comum a 77% dos brasileiros e, em excesso, pode causar sérios riscos à saúde, como dependência química, intoxicação, ou mesmo risco de morte.
Além disso, o uso indiscriminado das drogas medicamentosas pode dificultar um diagnóstico, mascarar sintomas das doenças e criar resistência a bactérias, por exemplo. Por isso, fica o alerta: sempre que precisar, procure um médico, antes de recorrer a indicação de amigos, pesquisas no google ou à sua caixinha de remédios favorita.
Outro fator importante, sugere uma ideia, cada vez mais realista, de que muitos remédios estão se tornando ícones de uma sociedade psiquicamente doente.
Pesquisas demonstram que, durante e após a pandemia, o consumo de remédios, especialmente os controlados, aumentou em mais de 20% em relação aos 12 meses anteriores ao período pandêmico.
São milhões de caixas de remédio consumidas para dormir, acordar, emagrecer, sorrir e ficar feliz, diminuir a ansiedade, melhorar o humor, aumentar a libido, dentre outros objetivos.
E o mais assustador dos dados: o número de crianças e jovens fazendo uso regular e contínuo de medicações psiquiátricas, triplicou nos últimos dois anos.
Ou seja, é incontestável a importância dos remédios para cura e controle do sofrimento psíquico e das doenças. Porém, precisamos nos atentar aos nossos limites. Afinal, todo excesso reflete uma falta.
Onde estão nossas faltas e quais são elas, que precisam ser “preenchidas” apenas com medicamentos, transformando-os em muletas de apoio?
Enfim, analisando o tema em questão, podemos dizer que novela “Terra e Paixão” tem desempenhado com sucesso, seu papel social de gerar debate e reflexão sobre assuntos relevantes para a população.
Petra escancara sua dor e angústia através do aprisionamento mental e físico, provocado pelo uso excessivo de remédios que dopam e limitam suas relações sociais e rotinas cotidianas.
O assunto em questão deve ser levado a sério e é preciso se atentar a tudo que gira em torno dos excessos do ser humano, ou do contrário, as consequências podem ser ainda mais desastrosas para o indivíduo.
Cabe, portanto, a busca por orientação médica e psicoterápica adequada, para que se possa “desmamar” o dependente medicamentoso, de forma correta e supervisionada, além de identificar quais os gatilhos que o levam a desenvolver a dependência, com o objetivo de auxiliá-lo na busca por hábitos mais saudáveis e na utilização racional dos fármacos.