Os colchões voadores
As pessoas que não são de Sombrio e região não conseguem entender como é que muitos sombrienses têm duas casas de moradia; uma em Sombrio, onde moram a maior parte do ano, e outra em Balneário Gaivota, só para o verão, sendo a distância entre uma e outra tão pequena, em torno de sete quilômetros. Os que pensam assim são pessoas que viajam distâncias muito maiores no dia a dia, só para estudar ou trabalhar. Para veranear então, nem se fala. Acham, e não lhes tiro a razão, que poderíamos ter uma só, evitando locomoção e despesas.
Mas não foi a distância que criou esse hábito, mas sim as condições das estradas do passado. Na verdade, nem estradas existiam. O terreno que separava o litoral da cidade de Sombrio era só campos, dunas e muito alagadiço. As viagens eram verdadeiras epopeias, exigindo dos veranistas muito esforço e coragem. Por esses caminhos não transitavam veículos automotores. Utilizava-se carroças, bois e cavalos. Ou a pé, por que não? Mesmo quando as primeiras estradas começaram a surgir eram precárias. Diante dessas dificuldades, os moradores da época viam-se obrigados a ter duas casas, uma cá outra lá. Ainda que a da praia fosse precária.
Quando veio o asfalto, as pessoas já estavam tão acostumadas a esses deslocamentos que ficou a cultura do vai e vem. Até porque tem a questão do clima, uma vez que na praia é mais agradável no verão, e vice-versa no inverno. Hoje, com o asfalto e mais o fato de que quase todo mundo tem automóvel, há a possibilidade de ter-se uma casa só, decisão que muitos já adotaram.
Duas casas nos causam alguns desconfortos. Apesar de deixarmos algumas coisinhas básicas em ambas, sempre há necessidade de levarmos e trazermos objetos que, por uma razão ou outra, deixamos de fazê-lo. Em especial eletrodomésticos, pelo risco de roubos, o que atualmente é muito comum. Passamos o verão todo como formigas, levando e trazendo. E nunca temos tudo. Ufah! Entretanto, é muito difícil mudarmos de hábito.
Nos verões sempre acontece algo inusitado. Num desses, estávamos com a casa da praia lotada. Não parava de chegar gente. A Verinha, minha mulher, corria de um lado para outro. Desesperada, vendo que estava difícil de acomodar todos, pegou uma “Saveiro” que tínhamos e veio “voando” a Sombrio buscar dois colchões. Na pressa, colocou-os na carroceria, mas não os amarrou bem. Com a velocidade do veículo eles voaram para longe, para os campos que margeiam a estrada, onde sempre há gado pastando. Ela parou o carro, passou dentre os arames farpados da cerca e se foi campo à fora desviando de poças d’água, na busca dos “colchões voadores”. Difícil não foi recolhê-los, mas sim espantar e defender-se do gado.