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PELO ESTADO | Entrevista Mario Cezar Aguiar

Presidente da Fiesc diz que indústria vai se recuperar, já Estado terá mais dificuldades

Santa Catarina tem 95% das obras de infraestrutura atrasadas; este ano governo realizou despesas não previstas com a pandemia
Entrevista com Mario Cezar de Aguiar – Presidente da Fiesc
Santa Catarina está com 95% das obras de infraestrutura e transporte com calendário comprometido. O quadro de investimentos no setor piorou muito desde o final de 2019 e os planejamentos para este ano certamente terão que ser revistos por conta da pandemia.

Atualmente são cerca de R$ 5 bilhões em investimentos dos quais apenas duas obras estão com seus cronogramas regulares, que inclui trechos da BR-282 no  Programa de Conservação, Restauração e Manutenção de Rodovias – CREMA II, e a reforma do aeroporto de Navegantes. Todas as demais 35 obras monitoradas pela Fiesc  estão atrasadas ou com  calendário comprometido.
Símbolo desses atrasos estão por exemplo na duplicação da BR-470, uma obra que se arrasta ao longo do tempo e que traria uma série de benefícios aos setores produtivos e aos próprios municípios e habitantes que estão próximos à rodovia.

Na entrevista desta semana, o presidente da Fiesc, Mario Cezar de Aguiar, fala das dificuldades e dos desafios que a indústria tem enfrentado com a pandemia e como estão os planejamentos para a retomada. Indicadores como intenção de investir, índice de confiança e perspectiva de emprego, todos monitorados pela Federação, já demonstram uma melhora, pelo menos, no horizonte.
[Pelo Estado] – Como a Fiesc acompanha essas obras de infraestrutura e logística?
Mario Aguiar –  Na verdade, esse conselho estratégico é composto por várias entidades, porque é importante a gente ouvir vários setores. Quando falo setores, não só empresas, mas também serviços públicos. Nosso conselho é composto das federações, de representes da indústria, dos portos, aeroportos, da Polícia Rodoviária Federal, Polícia Rodoviária Estadual, Ministério Público. É bem eclético, de forma que você possa ter uma ideia geral das necessidades, para se ter também uma base de discussão mais bem avaliada. Não é só a visão da indústria.
Ao analisarmos infraestrutura, sempre avaliamos ela de uma maneira macro. às vezes você tem o trecho de uma rodovia com problema e isso acaba comprometendo um eixo importante para o estado. Posso citar como exemplo os gargalos que temos em algumas rodovias, que acabam impactando todo um eixo importante para exportação, importação, ou seja, para movimentação da economia.
Hoje temos a BR-101, no trecho Norte, concessionada, duplicada, e ela tem alguns gargalos e acaba sendo uma rodovia que não tem desempenho em termos de trafegabilidade e  segurança. Então é importante identificar esses gargalos para não comprometer todo esse eixo.

[Pelo Estado] – O contorno da Grande Florianópolis é um desses gargalos também?
Mario Aguiar – O contorno ele até hoje não foi entregue. A previsão de entrega era 2012, por uma série de fatores eles atrasaram. Houve num primeiro momento uma necessidade de mudança de projeto, porque houve a instalação de um conjunto habitacional exatamente no traçado previsto e isso obrigou a inclusão de mais quatro túneis e acabam impactando no custo e no atraso da obra.
Recentemente teve uma discussão no Tribunal de Contas, sobre a proposta da concessionária, que era um orçamento da ordem de T% 1 bilhão e isso impactaria no acréscimo – isso e outras obras não previstas no contrato – de R$ 1,20 no valor do pedágio, que passaria de R$ 2,70 para R$ 3,90. Mas isso foi cancelado,de forma que nao temos hoje previsão de entrega de uma obra tão importante e necessária para Santa Catarina.

[Pelo Estado] – As obras estado estão praticamente estacionadas. Como vocês avaliam o quadro hoje?
Mario Aguiar –  Temos 95% das obras comprometidas no seu cronograma. Isso daquelas 37 que monitoramos. A situação agravou desde o último relatório de 2019. Apenas duas obras estão em dia, o Crema, na BR-280 e o aeroporto de Navegantes, que é uma melhoria na estação de embarque, é uma obra pequena. No geral, nossas obras estão bem comprometidas e isso nos preocupa muito. Por exemplo, uma duplicação como a BR-470, que são apenas 75km, está levando tanto tempo, uma obra com potencial enorme de retorno para a economia catarinense e para o desenvolvimento do Estado.Sem essa obra concluída se deixa de arrecadar e de se produzir mais.
Nós temos eixos importantes em Santa Catarina. Um eixo importante é o que liga o Extremo-oeste ao litoral, que é a BR-163, a BR-282 e a BR-470. Outro eixo é a própria litorânea, que é a BR-101, todos esses são são eixos fundamentais. A 101, além de receber transporte de carga, também é um corredor turístico importante.
Quando você avalia também os aeroportos, somente o de Floripa é compatível com a importância econômica do estado, você vê que esse modal está também bastante prejudicado. O Oeste, por exemplo, região  importante, só tem um aeroporto que recebe vôos regulares, que é o de Chapecó, mas opera com grandes dificuldades técnicas, de espaço e de conforto para o usuário. Então não há uma priorização.  Eu culpo o próprio modal, nosso plano aeroviário é dos anos 1990 e não foi atualizado até hoje. Quando o Ministério dos Transportes, nos setor aeroviário, avalia Santa Catarina, ele avalia um plano que é de 1990.

[Pelo Estado] – Além de aeroportos e portos, também há uma demanda pelo transporte ferroviário. Essa é uma discussão bem antiga e que pouco avança. Qual é a perspectiva da Fiesc?
Mario Aguiar – A ferrovia litorânea está sendo projetada desde 1870 e até hoje não temos o projeto totalmente concluído, embora esteja avançado. O óbice está no Morro dos Cavalos, que é uma discussão forte. Temos também a ferrovia Leste-Oeste, que alguns chamam de ferrovia do Frango, mas não é, porque a ferrovia tem que exportar mercadorias, mas também receber insumos. Uma ferrovia que viria desde o extremo oeste até o litoral e interligada com a futura ferrovia litorânea. Ela está com projeto concluído na Valec [Engenharia, Construções e Ferrovias S/A]. Já a litorânea está sendo avaliada pelo Dnit. Então aí já temos uma incoerência bem grande: dois órgãos distintos que avaliam um sistema, não pode ser analisado somente como uma linha, há necessidade de interligação. Seria fundamental que esse processo estivesse em um único órgão. É preciso concluir esse projeto e apresentar para investidores internacionais, como uma opção importante para Santa Catarina, já que somos um estado com uma corrente de comércio bastante forte, tanto nacional, quanto internacional.
E certamente temos carga com valor agregado que pode contribuir para viabilização do investimento em ferrovia. Investir em ferrovia é muito caro, principalmente em uma topografia como a nossa, com várias serras, mas em função da pujante economia ela tem um componente econômico importante que vai viabilizar esse custo mais elevado da implantação.

[Pelo Estado] – E como o setor tem enfrentado a pandemia. Quais são as expectativas?
Mario Aguiar – O estado de SC tem na sua economia uma boa base na indústria. Somos o 2º estado mais industrializado do Brasil. A produção de riqueza vem da indústria, é um setor importante porque emprega e paga os melhores salários, então, é fundamental para o estado ter uma indústria forte. Certamente a pandemia prejudica um pouco o desempenho, mas desde o início sempre tivemos o discurso e a crença de que Santa Catarina seria um dos primeiros estados a se recuperar. Temos visto o estado se destacar em termos de recuperação econômica, muito puxado pelo agroalimentar, com um crescimento expressivo.
Todos os índices que a gente monitora, índices de confiança, intenção de investir, estão acima dos 50 pontos e isso traz perspectiva de crescimento, O otimismo leva para uma decisão de investimento e isso gera desenvolvimento, emprego. Inclusive os indicadores da secretaria da fazenda tem mostrado que a arrecadação de impostos em julho e agosto estão acima dos níveis do ano passado.

[Pelo Estado] – Mesmo assim ainda somos muito dependentes do Estado, dos investimentos em Infraestrutura e até de qualidade de serviços para a população. E me parece que o caixa público está em outro patamar, não?
Mario Aguiar – O governo teve gastos não previstos em vários setores para tratar da Saúde e movimentar a economia. Estão [governo] sinalizando que alguns recursos e investimentos para BR-470 e a BR-280 serão reduzidos para 2021. Aí temos que trabalhar com a nossa base parlamentar para mostrar que o estado já foi penalizado ao longo dos anos, então não é justo que mais uma vez a gente saia prejudicado. Mas nesse aspecto existe, sim, a possibilidade de termos uma redução nos investimentos do Estado.

[Pelo Estado] – E não vivemos um bom momento político, não é verdade?
Mario Aguiar – O momento político preocupa. Agora, é preciso convergir as energias do setor público e privado para recuperar a economia e preservar a Saúde das pessoas, e aí entra em discussão um assunto inapropriado. Não estou entrando no mérito da questão do impeachment, mas a gente lastima que o estado tenha que passar por mais esse desafio, que realmente tira as energias e o foco. Nesse momento, deveríamos estar voltando todas as forças para a manutenção da saúde das pessoas e para o desenvolvimento do estado.

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