O Sombriense Vagner Generoso Velho tem medo de raios. “A primeira coisa é desligar os eletrodomésticos.Sei de gente que se esconde até debaixo da cama”, comenta, rindo, à nossa reportagem.
A moradora do bairro Raizeira, também de Sombrio, Feliciana Anastácio, não pega nada que é aço na mão, se afasta de portas e janelas. “Minha mãe dizia que espelho puxava o raio”, conta ela, que também tira tudo que puder tirar das tomadas.
Um grande raio, com 709 quilômetros em horizontal atingiu o Sul do Brasil, em 31 de outubro de 2018 e acaba de ser reconhecido com o recorde oficial de mais extenso registrado no mundo, anunciado pela Organização Meteorológica Mundial (OMM). O fenômeno atingiu a divisa entre o Rio Grande do Sul e Santa Catarina às 8h05. No estado catarinense, passou por dezenas de cidades do Oeste, Serra e Sul.
Para a professora e pesquisadora Rachel Albrecht do Departamento de Ciências Atmosféricas do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da Universidade de São Paulo (USP), que participou do comitê avaliador da OMM do fenômeno, as cidades que o raio se espalhou vão desde São Miguel do Oeste, passando por Pinhalzinho, Xanxerê, Chapecó, Concórdia e Campos Novos. No extremo Sul do estado, o raio também se ramificou por Lages, São Joaquim, Bom Jardim da Serra, Criciúma, Sombrio e Passo de Torres.
O raio cruzou a divisa do Norte do Rio Grande do Sul com a Argentina, percorrendo o Rio Grande do Sul e Santa Catarina e adentrando no Oceano Atlântico. A distância percorrida pelo raio é mais que a distância entre as capitais São Paulo e Florianópolis. O percurso é mais que o dobro do recorde anterior, registrado em Oklahoma (EUA), com 321 km.
Ela explica que essas regiões estão propensas à formação de tempestades severas com enorme extensão), o que contribuiu para que esses recordes de distância e de tempo fossem registrados nestes locais. Nessas condições, uma única descarga elétrica viaja por muito tempo e por longas distâncias dentro das nuvens.
Ela diz que este recorde traz informações valiosas para o estabelecimento de limites das escalas de tempo e área de influência dos raios, que são importantes para as questões de engenharia, segurança pública e científicas, como por exemplo, as mudanças climáticas, porque a identificação e monitoramento destes extremos são essenciais, pois na engenharia, as proteções contra descargas elétricas são projetadas para descargas de 1 a 3 segundos e até recentemente não se fazia ideia de que um raio pudesse durar mais de uma dezena de segundo.