Decidi começar hoje com uma frase em latim. Assim, não me cobres o acento agudo na palavra “injuria”, porque os latinos não usavam acentos nos vocábulos. Aliás, os ingleses também não. Não foi por frescura que abri este singelo texto com título sofisticado. A minha intenção foi apenas fazer com que tu voltasses teus lindos olhos para cá, ainda que só por curiosidade.
A frase foi dita por Cicero (106/43 a.C.), filósofo, orador, escritor, advogado e político romano. O cara era um gênio. O significado da frase é “Suprema justiça, suprema injustiça”. Ou, “excesso de justiça, excesso de injustiça”. O tribuno romano quis dizer que quando a justiça é aplicada com demasiado rigor, não há justiça, mas sim injustiça. Eu noto hoje em dia pessoas boas, algumas até religiosas, honestas e trabalhadoras querendo punições de extremo rigor e crueldade aos condenados. Assim, reflitamos sobre Injustiça?
Não fujas daqui, julgando equivocadamente que este texto não te diz respeito, pois não és juiz de direito e quê, por isso, não julgas nem condenas ninguém. Pelo contrário, não me dirijo a magistrados, pois estes já têm seus livros, mas pra ti, meu irmão, minha doce irmã, pessoas comuns, como eu. Ocorre que, todos os dias, julgamos alguém. Parece loucura! Mas julgamos até nós próprios, não é mesmo? Julgamos nossos pais, esposas, maridos, filhos, vizinhos, patrões, empregados, professores, alunos e o cacete.
O julgar atos humanos é normal, eis que não temos o poder de evitar que os pensamentos venham. O grande perigo consiste não no julgar, mas no condenar. Jesus Cristo disse: “Não julgueis, e não sereis julgados; não condeneis, e não sereis condenados; soltai, e soltar-vos-ão (Lucas, 6.37)”. O que ele quis dizer não foi que não se deve julgar, mas sim que não se deve julgar com excessivo rigor. Nota que, mais adiante, ele completou: “Com a mesma medida que medires, sereis medido”. O cara era demais. Esta tu não esperavas, né? Este escritor menor, às vezes amaldiçoado, citando a Bíblia.
Eu vejo todos os dias pessoas julgando todo o mundo, sem se olharem no espelho. E olha que muitos desses defensores da moral e dos bons costumes são pessoas que frequentam igrejas, templos, assembleias, sessões espíritas e o diabo-a-quatro. Alguns até andam com a Bíblia, o Alcorão ou o Torá debaixo do braço. Ah! Mas adoram julgar e condenar; queimar os ímpios nas fogueiras. Eu morro de rir deles e eles me chamam de ateu. Mas o que eu sou é um E.T.
Mas eu não nasci assim. Eu só aprendi que julgar errado é algo que dói muito, quando a gente tem consciência de que julgou mal. Uma das piores dores que eu já senti na minha vida, foi a do dia em que eu cometi uma injustiça e me conscientizei dela. Hoje me cuido muito para não fazê-lo de novo. Temos que nos policiar muito, para não nos acharmos melhores do que os outros. Todos somos irmãos e pecadores. Ninguém é perfeito. Deixemos o julgar para quem tem o dever de fazê-lo, como os magistrados. O quê, aliás, é muito difícil.