Saiba mais sobre esse animal marinho que existe desde antes dos dinossauros
Com a alteração das correntes marítimas e o aumento da temperatura da água do mar, surgem as temidas águas-vivas. Muito comuns na época de veraneio, esses animais aquáticos pertencentes ao grupo dos Cnidários causam milhares de ocorrências anualmente no litoral brasileiro.
As duas espécies de água-viva mais comuns no litoral catarinense, no Sul do Brasil, são a Caravela Portuguesa (Olindias sambaquiensis) e a Água-Viva Reloginho (Physalia physalis). A primeira pode ser identificada por sua “bolsa” flutuadora em tons de roxo e azul. Ela possui um veneno mais potente, que pode exigir atendimento médico. Já a segunda é uma hidromedusa de corpo transparente, que tem formato semelhante ao de um guarda-chuva. Ela é praticamente invisível aos banhistas, o que aumenta o risco de contato.
Há milhares de espécies espalhadas pelos sete mares , e elas se proliferam rapidamente. Fósseis encontrados no Canadá demonstram que as águas-vivas existem há pelo menos 500 milhões de anos, desde o período Cambriano. O ciclo de vida da água-viva é composto por três fases: larva ou plânula, pólipo e medusa. O fator surpreendente acerca dessa espécie é que ela é capaz de reiniciar seu ciclo de vida quando sofre estresse ambiental, regredindo de medusa para pólipo.
A maioria das espécies é composta por uma substância gelatinosa e possui aparência alienígena. Aliás, quase 3 mil medusas-da-lua foram enviadas ao espaço, em 1991, a bordo do ônibus espacial Columbia. O feito realizado pela Administração Nacional de Aeronáutica e Espaço (NASA) tinha o propósito de testar como a microgravidade afetaria a estrutura desses animais. No espaço, algumas das águas-vivas se multiplicaram, e as que nasceram a bordo não conseguiram se adaptar à gravidade quando retornaram à Terra.
Quer saber mais? Confira 6 fatos surpreendentes sobre as águas-vivas:

- O animal mais venenoso do mundo é uma água-viva
Quando falamos sobre os animais mais peçonhentos do planeta, logo pensa-se em aranhas, cobras e escorpiões. Mas, curiosamente, o ser vivo mais venenoso que existe é a água-viva-caixa-australiana (Chironex fleckeri), ou vespa-do-mar, como é mais conhecida. Acontece que essa espécie de cubomedusa libera uma toxina letal, que pode causar parada respiratória ou colapso cardiovascular nos seres humanos em poucos minutos. A boa notícia é que esse cnidário vive nas águas do nordeste da Austrália e não há registro da espécie em águas brasileiras.A espécie foi descoberta em 1880, no Mar Mediterrâneo (Foto: Shutterstock/Divulgação) - A espécie detentora da imortalidade
Com uma aparência alienígena e cerca de 2 centímetros de diâmetro, a minúscula Turritopsis dohrnii é detentora de uma condição muito almejada pelos humanos: a imortalidade. Esse atributo está ligado à capacidade de “regredir de fase”. O ciclo de vida da água-viva é composto por três fases: larva ou plânula, pólipo e medusa. O fator surpreendente acerca dessa espécie é que ela é capaz de reiniciar seu ciclo de vida quando sofre estresse ambiental, regredindo de medusa para pólipo.Espécie Aequorea victorias, ou água-viva de cristal, é uma hidromedusa bioluminescente encontrada na costa oeste da América do Norte (Foto: Pngtree/Divulgação) - Algumas brilham no escuro
Algumas espécies de medusa, como a água-viva de cristal (Aequorea victorias), brilham no escuro. Isso ocorre porque elas possuem órgãos bioluminescentes. Elas utilizam esse “superpoder” como uma estratégia de defesa para distrair e confundir os predadores – principalmente peixes e tartarugas.As medusas possuem cápsulas de veneno nos tentáculos, chamadas de nematocistos (Foto: wirestock/Freepik) - Água-viva não queima, mas envenena
Apesar de comumente utilizarmos o termo “queimadura”, na verdade os tentáculos das águas-vivas liberam toxinas urticantes, que causam um envenenamento químico na pele. Os sintomas mais comuns após o contato com uma medusa são: ardência, marcas vermelhas e dor intensa. Em casos mais graves, a vítima pode apresentar dificuldade para respirar ou engolir, dor de cabeça, dor no peito, náuseas e câimbras.As águas-vivas são compostas por 95% de água (Foto: bearfotos/Freepik) - Não possuem cérebro
Mas então como elas vivem? Não ter um cérebro não as impossibilita de terem controle de suas ações, já que elas possuem uma rede de neurônios distribuída ao longo do corpo. Dessa forma, os impulsos são transmitidos pela rede nervosa, possibilitando a coordenação e desenvolvimento do animal.Enxame de águas-vivas causam transtorno para usinas e pescadores (Foto: Wijs/Pexels) - Elas não causam problemas apenas aos banhistas
Biólogos explicam que houve aumento exponencial da população de águas-vivas nos últimos anos. Essa expansão está intimamente relacionada com o aquecimento global e com alterações ambientais causadas pelo ser humano. Além dos acidentes com banhistas, esses animais já causaram o desligamento temporário de diversas usinas nucleares e térmicas ao redor do mundo.
Isso porque elas podem, de forma acidental, entupir os tubos da infraestrutura das usinas que ficam no fundo do mar. Como ocorreu em 2013, quando um enxame de águas-vivas da espécie Aurelia desligou o maior reator nuclear da Suécia por dois dias.
O que fazer em caso de queimadura por água-viva?
O CBMSC reforça que, em caso de queimadura (envenenamento), é fundamental sair do mar imediatamente e procurar o posto de guarda-vidas mais próximo para a aplicação de vinagre no ferimento. Não é indicado lavar a região com água doce ou urina, já que a acidez do líquido pode aumentar a sensação de queimação. Dependendo da gravidade, o guarda-vidas acionará uma ambulância para atendimento médico. O vinagre é utilizado em acidentes com água-viva porque neutraliza o veneno.
O último relatório semanal divulgado pelo Corpo de Bombeiros Militar de Santa Catarina (CBMSC), de 21 a 27 de janeiro de 2025, registrou 2.849 ocorrências relacionadas a águas-vivas no litoral catarinense. O batalhão com maior índice de boletins de ocorrências com esse animal marinho foi o 4º BBM, com 1.603 casos, abrangendo as praias de Passo de Torres, Balneário Gaivota, Balneário Arroio do Silva e Balneário Rincão. Entretanto, o índice ainda é considerado abaixo do normal para o período.
Os banhistas devem evitar entrar na água quando o local está sinalizado com a bandeira lilás, que indica a presença de águas-vivas.
Texto: Mariana Machado (acadêmica de Jornalismo)