De forma gratuita em um grupo reflexivo, elas receberam, em oito encontros semanais, o atendimento pela equipe da universidade
“Conseguimos nos abrir e nos libertar, tendo a certeza de que, juntas, seremos mais fortes”.
A frase em consenso partiu de cinco mulheres com passado, presente e o desejo de um futuro em comum: a vontade de escrever uma nova história. Vítimas de violência doméstica, elas participaram de um projeto pioneiro e inovador em Criciúma, que proporciona curar as feridas e seguir em frente, buscando, na rede de enfrentamento, força e acolhimento. E o objetivo, segundo elas, foi alçando.
De forma gratuita e inseridas num grupo reflexivo, elas receberam, em oito encontros semanais, atendimento psicológico, tudo graças a uma parceria-piloto do Ministério Público de Santa Catarina (MPSC) com a Universidade do Extremo Sul Catarinense (Unesc). A ideia surgiu após uma reunião informal entre a 12ª Promotoria de Justiça de Criciúma, com atuação no Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, e o Curso de Psicologia da universidade.
Momentos voltados ao compartilhamento de dores, mas que se transformaram em um misto de sentimentos de apoio, conforto e abrigo. Não parece a quem escuta, mas as gargalhadas – que se misturaram por vezes ao silêncio e a dolorosos relatos – ouvidas pela porta de uma das salas das Clínicas Integradas Unesc partiram também delas. Agora, com o primeiro ciclo encerrado, a intenção é continuar encorajando outras mulheres a fazer parte do projeto.
de Justiça Samuel Dal Farra Naspolini, que junto a sua equipe oferta o encaminhamento, esteve no último encontro, que ocorreu neste mês, e constatou o desprendimento e a coragem das mulheres em dar o primeiro passo. Notando a necessidade de amparo psicológico às vítimas, o Promotor de Justiça confessou que, de início, houve certa dificuldade de aceitação durante os convites.
“Tivemos algumas dificuldades nos primeiros encontros e agora somos testemunhas do progresso por parte delas. Estando pessoalmente no encerramento do atendimento ao primeiro grupo, considero como um dos momentos mais importantes, não só por parte da 12ª Promotoria de Justiça, pela qual respondo há um ano e meio, como também de forma pessoal, por ter concebido, em parceria com a Unesc, um projeto não só de apoio ou amparo, mas de renascimento”, diz.
Além das ações judiciais
O Promotor de Justiça destaca que toda a problemática envolvendo a violência doméstica vai além das ações judiciais. “A promotoria que combate a violência doméstica deve entender o que se passa, entender as causas e compreender os personagens envolvidos”, explicou, completando que, pela Lei Maria da Penha, o apoio que o sistema de justiça e os órgãos oficiais ofertam às vítimas deve ser integral, e não somente no processo judicial.
Ele cita a recuperação do trabalho, a reinserção social e o amparo psicológico. “E, além disso, compreender a dimensão humana do que aconteceu de negativo e usar desse esforço mútuo algo que seja um aprendizado e que se torne, assim, algo positivo daqui para a frente”, acrescenta.
Dedicação
De forma coletiva, elas falaram, mas também ouviram, riram, desabafaram, uniram forças, trocaram experiências e desenharam novos planos – tudo mediado pelo professor responsável, o psicólogo Geison Carvalho Marques, que já tinha experiência em atendimento a vítimas de violência doméstica.
Dal Farra Naspolini teceu elogios ao professor e psicólogo, atribuindo a ele também o sucesso desta primeira fase, conduzida com entusiasmo desde os primeiros encontros.
“Tanto que nossa intenção é tornar o projeto definitivo devido ao avanço e objetivo alcançados, não só pela força de vontade dessas mulheres, mas também pela dedicação, empenho e idealismo do nosso professor, o qual é um grande vocacionado, que ajuda as pessoas a lidarem com o sofrimento e se libertarem da dor, e no sentido amplo de mestre, que vai muito além da docência”, elogia o Promotor de Justiça.
O projeto deve continuar com um novo grupo, mas seguirá atendendo as primeiras participantes de forma individual.